sábado, 24 de janeiro de 2004

Coquinho


Estávamos um amigo e eu num ponto de ônibus, naquelas esperas homéricas durante a madrugada, quando um cidadão se aproximou e começou a falar comigo. Pela postura e pelos olhos, traça-se o diagnóstico visualmente: está embriagado. O primeiro impulso é temer o figura, pois sabe-se lá o que ele pode aprontar. Todo mundo sabe que a única forma de se lidar bêbado é concordando com tudo o que diz, e foi o que fizemos. De cara, ele já foi logo encarnando com minha altura, maravilhando-se com o fato de poder haver no mundo gente tão alta que para poder encarar tem que praticamente "olhar pro céu".

Depois falou de basquete, vôlei, Guiness Book, NBA, falou do filho ("14 anos, dá dois de mim") e do período que passou preso (cinco anos). Ali já deu para notar que ele não tava afim de confusão. "Eu não tô fazendo nada de errado não, né?", perguntava a cada instante. Na verdade, ele é apenas mais um dentre tantos que dão qualquer coisa por uma simples conversa, e que aproveitam qualquer fila ou ponto de onibus pra achar alguém que os ouça (apesar do estado etílico).

Em mais um aperto de mão, disse que seríamos famosos ("vocês são gente fina") e perguntamos se ele não tinha alguma idéia de nome para nossa banda - ainda em formação. Após algumas tentativas, ele ficou meu intimidado ("e é rock, é?") e não conseguiu pensar em nada. Só pediu para que um dia dedicássemos uma música para ele, o Coquinho, "um caba bom amigo meu que eu conheci lá na Lagoa". É, Coquinho, se sua profecia se confirmar, eu não vou ter como esquecer de te fazer a tal dedicatória.


9 comentários:

Luís Venceslau disse...

luís e suas experiências inusitadas a bordo ou à espera de coletivos... como diria ailton: esse povo que mora nos ermos infinitos, sei não...

Gio

Luís Venceslau disse...

Nada melhor do que sair pela madrugada (voltando da feirinha) ouvindo os viajantes bêbados que tentam se equilibrar.. já fiz muito isso.. heheh =)

Paula

Luís Venceslau disse...

excelente crônica!

Agente Laranja

Luís Venceslau disse...

Adorei! Achei o máximo vcs terem parado pra dar atenção ao coquinho. Já conheci muita gente boa em situações semelhante e outras nem tão parecidas assim. Mas já discordei muitas vezes com pessoas em estado etílico avançado e por isso mesmo já passei perto de levar umas boas tapas.

MIla

Luís Venceslau disse...

postei a continuação do conto. Se tu for famoso por causa da banda, um dia, me chama pra ser guarda-costas. Se bem que com minha altura, em relação a ti... No máximo, guarda-canela.

ailton | Homepage

Luís Venceslau disse...

Esse cara era legal, mas nem sempre um bêbado neste estado é legal...

Zabella

Luís Venceslau disse...

que lindo :D nao sei pq lembrei daquele cara de magnolia (assisti ontem) que diz "tenho tanto amor pra dar"... parece ser legal ele ;)

Luísa

Luís Venceslau disse...

maravilhoso o post, Fluís. Estas aventuras intra e extra coletivo são exultantes

dina

Luís Venceslau disse...

por favor, elimina este meu link Borborema Heavy Metal, que ele é mentirosissimo. Por JN, ele cabe, mas a mim não. Sou fã do u2, Fluís, e cada vez que vejo o meu link destratado desta forma aqui, fico triste. Aceito "ahipocondriaca" ou "pessimismolatente" tb. Mas mude, viu?

dina | Homepage

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