terça-feira, 13 de janeiro de 2004

Vigília e torpor


Nem sei quanto tempo fiquei ali, de face com a penumbra da madrugada. Até o primeiro esboço de cochilo deve ter se passado meia hora, talvez uma, duas... Na tentativa de rastrear o fiapo de luz vindo da rua, que entrava pelas frestas da janela, meus olhos ardiam com suas pupilas em seu diâmetro máximo. Sob mim, o lençol já estava bastante quente e minha boca, seca como barro cozido. Após um copo d'água, volto para o leito com esperanças refeitas. Tento reviver o dia inteiro em todos os seus detalhes, no afã de que isso me enfadasse - o que foi em vão. Penso em lindas paisagens de girassóis, em cachoeiras, descampados, vales e nada... Nada... E caio do nada de volta para a escuridão do quarto. Desisto.

De repente, me pego despertando de um sono tão breve quanto malfadado. E foi assim que passei esta longa noite, ora semidesperto, ora olhando para o negrume. Nessas idas e vindas percebo que já é dia, e a manhã me pega como a noite me deixou: nem mais nem menos cansado. Maquinalmente, saio para a rua e me deparo com um dia úmido e abafado. Exasperante, o mundo parecia estar na boca de uma chaleira e tudo insistia em dar errado. Entre o branco do céu e a escuridão da noite, preferia estar de volta aos meus tranqüilos pesadelos. Pelo menos deles é possível sair, acordando...


7 comentários:

Luís Venceslau disse...

mas que merda

Ag. Laranja

Luís Venceslau disse...

Eu gostei, Bruno. Por acaso eu tinha falado de insônia num post recentemente (aquele blog que tu me ajudasse a fazer e que vive às moscas!). Depois que lí isso aqui eu pensei: muito melhor que o meu!

Breno

Luís Venceslau disse...

1) "Sleep, pretty darling, do not cry..." Golden Slumbers para você, meu caríssimo; 2) Bora combinar o lance de escrever um tema único??? Quem topa levanta a mão: _o/

NN

Luís Venceslau disse...

é lindo, mas perturbador... queria usá-lo em uma cena artística... posso?

Borboletinha | Homepage

Luís Venceslau disse...

Isso, por acaso, é um conto daqueles? Eu estou meio por fora ultimamente.

ailton

Luís Venceslau disse...

já descobri que não. A propósito, alguém foi ver a palavra "barata" no penúltimo parágrafo da Metamorfose??? Tema a palavra lá, pra depois ninguém dizer: "Por que se pensa logo em barata..."

ailton

Luís Venceslau disse...

Isso é o conto? Eu devia começar dessa vez...

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