É assim: se ao seu lado estiver uma moça que lhe agrade, ele puxa papo. Se ela estiver num banco sozinha, ele vai até lá como quem não quer nada e começa a falar. Ou ainda, se a pretendida estiver em pé e de preferência com alguma bolsa ou caderno numa das mãos, ele gentilmente o pede para levar e começa a jogar o papo, partindo do que puder improvisar na hora, seja acerca do clima, do peso dos livros, do mercado de trabalho, etc. Caso ele tenha a sorte da moça não descer antes dele e da conversa tomar corpo até o seu ponto, ele fará o possível para arrancar o telefone dela. E o pior (ou melhor?) é que às vezes ele acaba conseguindo.
O figura mora aqui no bairro e eu o conheço só de vista. Ele já deve ter passado dos 30 anos, faz Letras na UFPB, só anda bem trajado e portando um sorriso de tubarão branco. Faz o gênero "homem-maduro-protetor". Jamais me passou pela cabeça que um tipo como esse fosse adepto dessa prática.
Soube dessas suas peripécias exatamente num dia em que, pela primeira vez, pude vê-lo em ação. Por coincidência, eu e um primo - que já o conhecia melhor do que eu - entramos num mesmo ônibus que ele. Claro que o rapaz em questão já havia ido e sentado ao lado de uma moça que estava sozinha.
Enquanto a coisa se desenrolava dois bancos a nossa frente, meu primo me falava tudo o que sabia sobre os métodos e a trajetória do paquerador. Fiquei bestificado. Ainda não tinha visto esse tipo de abordagem, nem tampouco julgava que ela existisse. Naquela viagem, a escolhida parecia ser uma estudante de enfermagem, que se mostrava nada avessa ao papo.
Descemos todos na mesma parada e ele, sempre sorridente, cumprimentou meu primo e a mim. "É uma pena. Dessa vez nem deu... Mas aquela daquele dia me deu o telefone!", disse referindo-se a outra moça de uma outra viagem de dias atrás, do qual o ataque meu primo havia sido testemunha.
Existe um ditado americano que diz "Nice guys finish last" ("Caras legais ficam pra trás"). Estou começando a crer nisto...