quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Além dos detalhes

Cantor: Roberto Carlos
CD: S/T
Lançamento: 1971

Em 1971, a Jovem Guarda já era algo tão distante que parecia nem ter existido. A chegada dos tropicalistas havia instaurado uma verdadeira crise naquele que tinha sido o maior fenômeno musical (e jovem) que o país tinha visto. No olho do furacão, todo mundo teve que rever a própria carreira e, se preciso, corrigir a rota se não quisesse cair num implacável anacronismo. Nem Roberto Carlos, já proclamado rei da Jovem Guarda, seria poupado.

Mas Roberto estava acostumado a se reinventar. De roqueiro a bossanovista e depois novamente roqueiro, ele se tornaria o maior expoente da Jovem Guarda, quase um líder do movimento. A vitória no Festival de San Remo, em 1968, marcaria a nova transformação de Roberto Carlos, que agora investiria cada vez menos nas guitarras, dando espaço a um romantismo mais sofisticado e a uma intensa melancolia. Esse “novo” Roberto Carlos conheceria o ápice criativo e de popularidade com o disco de 1971, o que traz o seu hit-supremo: “Detalhes”.

A presença do baladão semi-brega acaba ofuscando um dos discos mais inspirados e versáteis do Rei. O blues “Como dois e dois” de Caetano Veloso (que tratava do estado de coisas pós-AI-5) e “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos” (homenagem ao próprio Caetano, já exilado) foram mostras de que a Jovem Guarda, na pessoa do seu ídolo maior, não era tão alienada quanto julgava a “MPB de protesto”. O disco também traria algumas de suas bem sucedidas incursões na Black Music (“Eu só tenho um caminho” e “Todos estão surdos”). Outros destaques ficam por conta de um vaudeville irônico sobre o romantismo na sua face mais atávica (“I Love You”), e da sombria “Traumas”, na qual ele relata o acidente que lhe decepou uma das pernas, ainda na infância.

Desprezando tudo que ele fez nos últimos 30 anos e os seus primeiros discos na Jovem Guarda, dá pra acreditar que o verdadeiro Roberto Carlos é aquele que gravou os discos entre 1969 e 1973. Nesse momento, ele teve que se mexer pra procurar um novo caminho criativo quando a Jovem Guarda caducou e assim pôde dar vazão ao que sempre teve dentro de si, sua visão crítica, seu lirismo, e principalmente os seus tormentos. Obviamente nada disso tinha como aparecer em meio à histeria da Jovem Guarda, ficando bem aparente não só nas músicas, mas também nas capas dos discos do período em questão.

- De tanto amor

Um comentário:

Débora Aquino disse...

Excelente post Luís! Meu pai tem esse LP e pra mim, esse "O inimitável"(o favorito do meu pai) são as melhores capas de discos de RC.

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