segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

De Minas, gerais

Cantor: Milton Nascimento & Lô Borges
Disco: Clube da Esquina
Lançamento: 1972

Qual o contrário de guinada? Talvez essa palavra nem exista. Certo mesmo é que o que Milton Nascimento fez no começo dos anos 70 pode ser chamado de uma guinada ao contrário. Compositor reconhecido, destaque em grandes festivais, Milton retornaria ao seu reduto, pra longe da mídia, e se juntaria a um bando de moleques desconhecidos para gravarem um disco duplo.

Atente para a quantidade de absurdos numa mesma frase: longe da mídia, moleques desconhecidos, disco duplo. É loucura, se medirmos com a régua de hoje, tão pragmática, tão mesquinha. Para artistas de verdade, do naipe de Milton, trata-se apenas de mais um capítulo numa trajetória vitoriosa. No caso em questão, um dos capítulos mais grandiosos da música brasileira moderna, e que atende pelo nome de Milton Nascimento e Lô Borges – Clube da Esquina (1972).

Nem clube nem movimento: o título faz referência ao grupo de amigos que se reunia numa esquina de Belo Horizonte para tocar violão, aprender novos acordes e novas músicas. Além de Lô e Milton, Beto Guedes, Wagner Tiso e Fernando Brant integravam a turma. Após tomarem rumos distintos, todos se reuniriam naquele 1972 para um projeto que teria o melhor de cada um: o canto de Milton, a influência beatlemaníaca de Lô, as letras de Brant, a tradição mineira em Beto Guedes e o virtuosismo de Wagner Tiso. Só assim, de posse do melhor de cada um e no meio de uma enorme sintonia é que seria possível criar algumas das músicas mais emblemáticas daquela década, como “Trem Azul”, “Nada será como antes”, e “Tudo o que você podia ser”. Não por acaso, algumas dessas músicas acabariam sendo regravadas exaustivamente, inclusive por nomes de peso da MPB clássica, como Elis Regina e Quarteto em Cy. Virou um clássico instantâneo.

Como Raul Seixas, que propunha o encontro de Elvis com Gonzagão, do baião com o Mississipi, Milton e companhia fizeram uma celebração do olhar interiorano, seja do interior da América Latina, do interior de Minas com seus trenzinhos e sua religiosidade, ou do interior da Inglaterra na música de Lennon e McCartney. Como diria o também mineiro Guimarães Rosa, “o sertão é em toda parte”, e o pessoal do Clube sabia disso.

- Vento solar, estrelas do mar

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