quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O que está acontecendo? (II)

Continuando a conversa do post anterior, agora três discos nacionais.

Bárbara Eugênia - Journal de BAD (2010)

O disco de Bárbara Eugênia é a prova de que ainda dá para esperar alguma coisa da MPB. Seria tentador chamá-la de “salvação da música brasileira”, mas não vem ao caso, e mesmo que ela fosse, ela jamais seria reconhecida como tal. Primeiro porque seu disco é desencanado demais, amplo demais, para fazer parte do universo tacanho que a MPB se tornou. Sem se prender a nada, sem prestar reverência a medalhões, Bárbara envolve rock, chanson francesa, pop (porquê não) e uma brasilidade natural que lhe colocam (felizmente) fora de qualquer repertório de praça de alimentação e/ou barzinho. Em “Journal de BAD” não vemos uma candidata a diva fazendo o tipo “sou sapata, adoro o Caetano” nem muito menos uma pseudo-sambista que nem sabe pra que lado fica o morro. Bárbara é cantora e ponto. Sincera, honesta, e com aquele jeitinho de quem não está fazendo força pra agradar ninguém. Resista a tanto charme, se for capaz. (Aqui)


Lulina - Meus Dias 13 (2010)

Desapego. Essa palavra pode sintetizar bem o trabalho da pernambucana Lulina. Ouvir “Meus dias 13” é também uma experiência de desapego à tudo o que se considera “normal” na música pop. Mas não que Lulina seja experimental ou hermética, pelo contrário: sua música é de uma simplicidade que chega a ser comovente. Suas temáticas oníricas, e até um tanto lúdicas, encontram a embalagem ideal num som lo-fi-semi-caseiro que não é uma opção descolada para mascarar a falta de talento. A sonoridade pode ser pé no chão, mas Lulina usa de poucos recursos para criar universos e criaturas como uma criança que faz de uma peça de Lego um cruzador intergalático. Ao mesmo tempo que em não se preocupa com o apuro formal em favor de uma espontaneidade quase viceral, intuitiva, plena de liberdade, Lulina consegue ser desapegada o bastante com a própria arte para ir atrás de parceiros musicais na Internet. Pelo visto, Lulina tem o que a ensinar a muitos aspirantes a astros. (Aqui)


Dalva Suada - EP (2010)

O Dalva Suada faz um som sem frescura. A base é o Stoner, de guitarras pesadas, sempre em primeiro plano, e ritmos tensos, ora acelerados, ora arrastados. Mas a música deles não tem nada de derivativa - eles vão além do estilo cunhado pelo Queens Of Stone Age e agregam elementos de Acid Rock, Psicodelia, até blues. Por mais que as principais referências sejam sons de fora, dá pra sentir nas letras e no som do Dalva Suada o calor bem típico de João Pessoa, o glamour decrepto dos personagens do Varadouro, a malícia dos bares coloridos da rua da Areia. Com um vocalista carismático e contando com músicos experientes, o Dalva Suada – ao lado do Violet, Nublado e Burro Morto – é uma boa mostra de que a Paraíba está se tornando um lugar ao qual se deve ficar atento nos próximos anos. (Aqui)

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