Às vezes nem parecia, mas ela tinha defeitos. Nada muito censurável: impaciências que eram resquícios da criança mimada que fora, e que, por outro lado, denunciavam um senso prático quase sobre-humano. No meio de sua essência indômita, de força da natureza, essa era uma das coisas mais misteriosas. Enquanto ele se debruçava sobre laboriosos exames mentais em busca de alguma solução que já lhe parecia impossível, ela chegava como que num condão e com três palavras simples resumia tudo, mostrava o caminho sem tirar os olhos da novela. Era ela, com sua alegria descompromissada, com sua extrema transparência, com seu jeito de permanente bonança, e o cuidado em estar sempre entre os seus, que funcionava como um antídoto contra o amargor do seu pedantismo intelectual, dos seus questionamentos difusos que só ganhavam foco com o olhar dela – sempre radiante, encorajador.
Com o tempo, sem nem perceber, ele começou a se divertir com certas frivolidades dela, e assim se via obrigado a olhar o mundo com menos rigor e mais leveza, respirando de pulmão cheio, livre dos próprios pesos, sentindo a vida como uma brisa de mar no rosto. Olhava pra ela e via coisas que nem lembrava mais que existia: doação, generosidade, alegria com a alegria alheia. Por baixo de toda aquela sua indiferença mal fingida, daquele seu orgulho inútil, ele sabia que era alguém melhor perto dela, e que ter convivido com aquela menina que falava com cachorros talvez fosse a única coisa de que se orgulhava na vida.
Com o tempo, sem nem perceber, ele começou a se divertir com certas frivolidades dela, e assim se via obrigado a olhar o mundo com menos rigor e mais leveza, respirando de pulmão cheio, livre dos próprios pesos, sentindo a vida como uma brisa de mar no rosto. Olhava pra ela e via coisas que nem lembrava mais que existia: doação, generosidade, alegria com a alegria alheia. Por baixo de toda aquela sua indiferença mal fingida, daquele seu orgulho inútil, ele sabia que era alguém melhor perto dela, e que ter convivido com aquela menina que falava com cachorros talvez fosse a única coisa de que se orgulhava na vida.
4 comentários:
qual a razão para o itálico? isso deu ruído. não sei se entendi o texto por causa desse itálico. será que 'tô dando um negrito a esse itálico que ele não tem?
A eterna mania do ser humano em não querer enxergar os defeitos daqueles a quem admiramos...
senti falta de textos desse tipo. quando eh que vai sair a iniciativa de publicar essas coisas? tu eh muito humilde pra isso, mas um dia eu publico por tu hohohohoh ;)
pedantismo intelectual é o q esse texto lembra, na boa..
Postar um comentário