quinta-feira, 18 de novembro de 2010

De silêncio e som

Se você se considera um fissurado em música, que cultua músicos favoritos como santinhos num altar, que acompanha lançamentos, gosta de discutir sobre o estilo de uma banda, que desbrava a internet em busca de um link impossível, coleciona álbuns (Mp3, CD, LP), gasta boa parte dos seus dias lendo, pensando ou escrevendo sobre música, então você certamente vai gostar muito de Juliet, Nua e Crua (2009), de Nick Horrnby.

Mas se não faz nada disso, a chance de gostar desse livro também é grande. Digo isto porque o livro não trata exatamente de música, não é voltado apenas para aficionados, seria até um erro achar isso. O seu ponto de partida é a adoração de Duncan por Tucker Crowe, um músico relativamente famoso nos anos 80 que decide abandonar a carreira de uma hora para outra, justo quando alcançava o seu melhor momento com um disco que acabara de lançar – Juliet.

A partir daí vamos conhecendo pouco a pouco o caráter tanto de Tucker, de Duncan, e de sua esposa Annie (quase obrigada pelo marido a embarcar no culto ao cantor), até chegarmos ao ponto em que esses três personagens acabam se envolvendo num conflito que vai além do gosto pela música. Porque a grande matéria-prima de Juliet, Nua e Crua não são os discos de Tucker nem as bobagens que um fã é capaz de fazer: é a própria vida, as decisões que se toma (e as que não se toma), e a forma como lidamos com as suas conseqüências. Como pano de fundo, está a música, a arte, e uma breve discussão sobre o que é maior: a vida, a arte ou artista. Assim como em Alta Fidelidade (romance que deu projeção a Hornby, até virou filme) essas questões surgem em meio à cisões de relacionamentos e descobertas, tudo isto carregado de referências pop e de um fino humor auto-depreciativo (bem inglês, por sinal).

Imprevisível sem ser forçado, econômico sem ser simplório, Juliet, Nua e Crua atinge em alguns momentos uma emoção intensa justamente por aquilo que não é dito, e é aí que Nick Hornby se revela um escritor altamente sagaz: por ser tão sensível à música, ele sabe que às vezes são esses silêncios que dão todo sentindo àquilo que ouvimos.

4 comentários:

.ailton. disse...

porra, bicho, tu escreve melhor a cada dia que passa.

e o filme alta fidelidade é muito bom. esse livro, do mesmo autor, deve ser igualmente bom.

Larissa disse...

O silêncio, acho, fala muito mais do aquilo que ouvimos. Entrelinhas, por favor! Nisto está a beleza!

Anônimo disse...

Vou ver esse filme!

Bruno disse...

N achei o filme alta fidelidade tao bom, mas fiquei com a impressao de que o livro, esse sim, seja otimo. Já 'educaçao' eh q eu nao gostei mesmo. Forçado, sem ousadia, sem imaginaçao.

Mas eu ainda tenho q ler algo do bicho, ateh pq ele gosta de futebol.

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