segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Os quatro elementos primordiais

Banda: Novos Baianos
Album: Acabou Chorare
Lançamento: 1972

"Lá vem esses baianos de novo". Foi o que muita gente deve ter pensado quando todo mundo cantava "Preta Pretinha" como se tivesse nascido sabendo a letra. Nas décadas anteriores, a partir dos anos 40, sempre um representante da Bahia estaria na linha de frente da música brasileira: primeiro Dorival Caymmi passando todas as dicas pra Carmem Miranda, depois João Gilberto subvertendo o samba e ganhando o mundo, e a Geração Tropicalista inaugurando o mundo moderno em 68. Era a chamada “Máfia do dendê” já com status de instituição. Na virada para os anos 70, a escrita era mais uma vez mantida, só que agora através de um grupo batizado com o sintomático nome de Novos Baianos.

A proposta dos Novos Baianos, ao mesmo tempo que tinha um enorme sabor de novidade, parecia condensar tudo o que os seus predecessores lançaram. No seu segundo disco, - Acabou Chorare (1971) - estão presentes o canto seminal de Caymmi e o apuro de João Gilberto, sem deixar de lado a inventividade, a ousadia e os timbres do rock que os tropicalistas haviam posto na roda. Em “Mistério do Planeta”, Paulinho Boca de Cantor confirma isso: “Pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus, ou vestidos de lunetas, passado, presente: participo sendo o mistério do planeta”. Era o testemunho de uma banda atemporal que fazia a ponte entre o presente elétrico e o ideal bossanovista, citando um dos versos clássicos do poetinha de Ipanema (“a vida é a arte do encontro”).

E o encontro daquele grupo (além de Paulinho, Morais Moreira, Pepeu Gomes e a carioca Baby Consuelo) redundaria numa música ao mesmo tempo popular, forte e sofisticada (como toda obra grandiosa é). De posse de um repertório tão múltiplo quanto influente, aquele misto de colônia hippie, time de futebol e trupe mambembe, reunia os heróis ideais de uma época cujos heróis corriam o risco de serem extirpados do convívio, onde a felicidade servia de antídoto para a amargura de um mundo pós-AI 5. (“A menina dança”, “Besta é tu”)

Acabou Chorare é até hoje o cartão de visita desse grupo que foi um dos mais criativos que o Brasil já viu. Sua música permanece viva, atual e inqualificável, gravitando entre o samba de roda, a MPB e o rock. Quase 40 anos depois, ele se tornou tudo o que os "cantores de barzinho" da música brasileira queriam ser e não conseguem.

- Eu ia lhe chamar

::: Mais Novos Baianos e Acabou Chorare aqui.

2 comentários:

caso.me.esqueçam disse...

caramba, coloquei esse album antes de ontem e muita gente se interessou, viu? aih fui explicar quem erles eram, o porque do nome etc. ninguem achou estranho que a filha da baby se chamasse zabele. uma pena...

Chilavert disse...

muito massa esse album.

mas mudando de ritmo, tu ja ouviu short cross?

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