É normal esfriar o chiclete no ar-condicionado? Pelo menos pra ela é. Aliás, ela está muito à parte de qualquer conceito de normalidade. Ela não vive num universo próprio, como se diz por aí – ela é um universo, em si mesma, muito distante do nosso dia-a-dia mesquinho. Essa distância com que se punha diante das coisas que não lhe interessa é por vezes confundida com pedantismo, coisa que talvez ela nem saiba o significado. É displicente com o mundo por talvez estar mais desperta para o que tem dentro de si. Também é verdadeira de uma forma quase patológica, e irresistivelmente transparente. Não diz “tudo bem?” se não quiser realmente saber como está a pessoa. Mas o seu sorriso, quando há, é largo, luminoso, amplo como o de uma criança brincalhona. Ela não é de se comover com tudo, com cãezinhos desamparados ou tragédias nos jornais, mas Chopin, pássaros engaiolados e asilos lhe deixam estranha, oca, e isso dói.
Ela também não é do tipo que se preocupa com coisas elevadas, como a causa feminista, o conceito de Deus ou os males que as corporações causam ao mundo - ela só sabe o que quer e do que gosta. Por exemplo, evita praça de alimentação de shopping, não pela comida, mas pelo barulho, acha invasivo demais. No meio de multidões sente-se desolada, anulada enquanto gente, e indefesa. Prefere mesmo a paz de um boteco, com um garçom prestativo com quem pode fazer amizade, e a quem chamará por nomes errados, de propósito, matando de rir todos em sua volta. Mas ela gosta de bares mais porque pode ouvir e ser ouvida, e dependendo do humor, deixar na mesa guardanapos com perguntas tipo “É possível ser infeliz?” ou “Você sonha ou espera?”.
A blusa dos Smiths, surrada, o rabo de cavalo e a ausência de cosméticos aparentam desleixo, mas sem querer ela dá uma pista: “olhe com cuidado”. E quando sua mãe encrenca com suas sandálias baixas, ela retruca, fazendo pose de diva: “não preciso levantar minha bunda, sou gostosa do meu jeito”. É isso que eu gosto em Elisa: às vezes ela pode ser boba, mas tola, jamais.
2 comentários:
gatinha
Há um pouco de Elisa em mim. Sem nenhuma viadagem! =)
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