sábado, 4 de março de 2006

Primeiras impressões do intercâmbio


(Um post ao estilo Gio)

Há pouco mais de duas semanas estou vivendo entre João Pessoa e Campina Grande. Não, não está sendo horrível. Campina Grande até que é uma cidade muito curiosa, dá pra se divertir com algumas "peculiaridades".

A começar pelo sistema de ônibus. Louco é a melhor forma de qualificá-lo. A cidade, em si, é pequena, mas o trajeto dos ônibus escassos torna as distâncias três vezes maiores. A sensação é que você sai da cidade várias vezes quando se quer ir ao centro ou à rodoviária, por exemplo. O que deixa isso mais paradoxal é que de praticamente qualquer ponto da cidade é possível ver os seus limites, o fim da zona urbana, lá no sopé dos montes da Serra da Borborema, por onde sobem ramagens verdinhas. Lembra até um pouco o Condado dos Hobbits de Tolkien. É como se a cidade tivesse sido construída dentro de uma cuia, ou de uma cratera, para usar um termo mais geológico. Aí você pensa: "se a cidade só vai até ali, como é que esse ônibus já passou por tantos lugares diferentes e não chegou ao meu destino?". Tem dessas.

Na infância eu passei várias férias em Campina Grande e lembrava apenas que havia lá um mormaço durante dia. Mas o que é uma palavra - "mormaço" - diante do fato de estar lá, debaixo do sol, ao meio-dia? Nada. Não é nada diante daquele calor miserável que faz lá entre onze da manhã e quatro da tarde. É quase intolerável. Só agora sei a que García Márquez se refere quando fala em seus livros coisas como "ao meio-dia a cidade afunda no torpor" ou "pessoas fazendo a sesta na rua" ou ainda "a reverberação da tarde". Creio que por ser no pé da serra, a cidade fica mais pertinho do céu, e do Sol, logicamente. Mas o que deve mesmo contribuir pra essa quentura dos infernos é a quase inexistência de árvores robustas e de copas frondosas. Em Campina os postes reinam absolutos.

Quem também reina lá são os cavalos. É impossível percorrer a cidade e não ver um cavalinho sequer. Um dia eu contei cinco, da universidade para casa. Mas Campina também tem outro xodó: a motocicleta. Tamanha a popularidade do veículo na cidade que até um serviço de moto-taxi criaram por lá. E, com efeito, se há motos, há acidentes de motos, todos os dias, e nos mesmos trechos. Ter caído de moto em Campina é como ter sido mordido por tubarão em Boa Viagem ou ter câncer em Chernobyl. Batata.

Outro traço peculiar, talvez típico de cidades pequenas, é que qualquer crime mais bárbaro que ocorra lá ou nos arredores vira assunto geral na semana. Nas ruas, calçadas, pontos de ônibus, onde quer se vá, o crime está sendo amplamente comentado e melhor: com uma proximidade assustadora. Os participantes dos crimes, seja vitima, seja executor, é sempre parente, conhecido, vizinho, colega de escola etc. Falando assim até parece que Campina Grande é uma cidade ultra-violenta. Pode até ser, mas em duas semanas, ninguém nem olhou feio pra mim.

18 comentários:

Luís Venceslau disse...

"em pequena" "sem há motos". merece uma revisao. estilo gio soh pq eh "baseado em fatos reais"? pq o estilo propriamente dito nao tem nada a ver. sem duvida campina eh curiosa, pelo menos eu tenho muito interesse por essa cidade. gostei, agora tu podia falar da ufcg, do curso, das gat..., dos colegas etc. ah, e aki no bancarios todo dia eu vejo cavalos

BRUnO

Luís Venceslau disse...

mas.. o pé da serra nao fica embaixo?

PauLa

Luís Venceslau disse...

vc disse q campina fica numa cratera porque vc nunca foi a patos!

ailton | Homepage

Luís Venceslau disse...

Campina Grande parece o Condado dos Hobbits! Essa foi boa! Interessante você começar a falar de Campina e destacar os ônibus. A estilo "dentro do coletivo" voltou à ativa. =P um abraço!

Breno | Homepage

Luís Venceslau disse...

Bastante pertinente o comentário de Breno. Acredito que em Campina falta a relva do Condado. Também há de se levar em conta o fato de que árvores frondosas e altas não fazem parte da vegetação local, diferente do litoral paraibano. Gosto de muito do povo de Campina. Acho terrível a água salobra de lá. Fazendo uma média, é um lugar muito bom pra se morar. À noite, faz frio e fica muito bom para vestir algo mais aconchegante e a mulher campinense sabe se vestir bem.

Mythus | Homepage

Luís Venceslau disse...

é verdade, nada a ver campina e o condado. MAs, supondo q haja algo a ver, será q dina (o hobbit de campina) foi queimar o anel na montanha da perdição?

ailton | Homepage

Luís Venceslau disse...

Acertou nas infâmias características de Campina. Com relação ao (precário, seboso) sistema de ônibus, para se ter uma idéia de sua desorganização, havia três linhas de mesmo nome cujas paradas eram em pontos diferentes. Só me perguntava por que raios não bastava acrescentar uma letra ou número de modo a orientar os passageiros do trajeto diferenciado. Eu ficava puta! Cada dia descia num lugar imprevisível e invariavelmente ermo. Calor em CG? Por favor, não confundir: quanto maior o relevo, mais baixa a temperatura, nunca o contrário. JP, de longe, é muito mais quente. CG é ultraviolenta. Dê bobeira e adeus, pertences. Quando batem as dezoito badaladas, é um negócio de nego sair correndo pra dentro de casa, e quem fica fora vira alvo da bandidagem. Não gosto de CG. Gosto do Treze, do São João, da minha parentelha e do indecifrável orgulho dos campinenses de terem nascido lá. Não vou negar que é uma terra de encantos climáticos e hibridismos comuns da indecisão entre ser rural ou urbano (continua)

Dina

Luís Venceslau disse...

, mas Campina sabe bem criar seus filhos até dourar a pílula e expulsá-los de uma vez por todas de lá. Bom post. Ailton, cala boca, hehe!

Dina

Luís Venceslau disse...

Ah, pra quem não sabe, passei 17 anos neste condado de ogros hobbits. Querendo uma história pitoresca de CG, sou o Houaiss.

Dina

Luís Venceslau disse...

gostei bastante do comentario de Dina, especialmente deste trecho: "Não gosto de CG. Gosto do Treze, do São João, da minha parentelha e do indecifrável orgulho dos campinenses de terem nascido lá." Muito bom.

cítrico | Homepage

Luís Venceslau disse...

rapaz... tem um valor sentimental pra mim enoooorme! e não por eu ter nascido lá, me poupe. mas as lembranças mais felizes foram made in campina. =} é, CG cultiva postes, uma coisa! e é, como dina disse, ultraviolenta. deixa teu bracinho com o relgógio descansando pra fora do ônibus pra tu ver o que volta.

luci, uma campinense

Luís Venceslau disse...

Esse post me fez pensar em quando eu morava em CG, na infância. Tinha um tio meu que ia passar férias e um dos nosssos passeios era fazer o circular em um dos ônibus de lá, :). Um coisa que eu adorava era a liberdade que a gente tinha pra brincar na rua e andar de bicicleta, coisa que foi combatida pela madrecita quando viemos morar na capital...

Zabella

Luís Venceslau disse...

eu ja deixei meu bracinho descansando na janela do onibus em pleno bairro dos estados e o relogio soh voltou pq o pirralho nao teve força..

brunO

Luís Venceslau disse...

Essa história é mais velha que a bermuda de Exército e Bruno fazer natação no Dede (ou é DED? Sei lá).

Dina

Luís Venceslau disse...

"CG é ultraviolenta. Dê bobeira e adeus, pertences. Quando batem as dezoito badaladas, é um negócio de nego sair correndo pra dentro de casa, e quem fica fora vira alvo da bandidagem". Que exagero da bixiga, Dina! Entretanto, vejam, caros leitores desse blog, Dina acha q campina é violenta mas colabora pra isso; em outras palavras, PEDE para ser assaltada: "Eu ficava puta! Cada dia descia num lugar imprevisível e invariavelmente ermo".

ailton

Luís Venceslau disse...

esse final de semana eu tava em Aracaju conversando. Aí, qual não foi a minha surpresa ao ouvir alguém falar que ficou encantado com CAmpina Grande! Eram sergipanos e pernambucanos que vieram fazer a prova do TRT em CG e ficaram embevecidos com o bucolismo de CG. Diziam até q gostariam de morar lá!

ailton | Homepage

Luís Venceslau disse...

campina rulez. soh falta uma praia pra ser uma mini recife

bRuNO

Luís Venceslau disse...

Ailton, cala a boca, hehe! Minha história não é exagero, exagero é Campina, até no nome.

Dina

Morada

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