segunda-feira, 7 de junho de 2004
Raspas e restos não me interessam
A cena aconteceu há uns três, quatro anos. Eu tive que levar meu irmão para fazer um teste simulado num ginásio de um clube e fiquei lhe esperando na porta. Algumas horas depois, percebi que o encerramento das provas estava próximo ao ver chegando dos arredores vendedores de todo tipo de guloseimas, todos conhecidos da garotada do colégio.
Toca a sineta. Todos começam a entregar as provas e a ganhar a rua. Logo me vejo rodeado pela malta de moleques esganiçados que se acotovelavam em volta dos carrinhos de pipoca e raspadinhas. De cara, percebo uma coisa estranha no vendedor de raspadinhas que estava a poucos metros de mim: à medida que os garotos iam bebendo as raspadinhas e atirando os copos vazios no chão, o tal vendedor não tinha a menor timidez em ir lá, recolher os copos, dar umas batidinhas pra lhes tirar a terra e guarda-los numa cestinha, apropriada para isso.
Depois não houve como eu não tirar os olhos de cima do cara. Fiquei lá prestando atenção em todo o seu trabalho enquanto meu irmão não vinha. Havia a barra de gelo, os líquidos coloridos, o instrumento usado para tirar as raspas da pedra de gelo, os canudos pequenos... Enquanto especulava sobre a qualidade da água que virara aquela pedra, noto um outro aspecto curioso do trabalho do cara: sempre que as raspas do gelo ficavam muito pra fora do copo, ele "afofava", "aplainava" o gelo com a própria mão para que ficasse rente à borda do copinho...
Entre uma venda e outra, eis que o crime é praticado. Depois de limpar o suor da testa com a mão direita, o rapaz a enfia dentro das calças até quase a altura do cotovelo. É, colocou lá, na parte da frente mesmo, com um gesto tão abrupto que eu duvidei ter sido o seu único espectador. Até hoje não sei se coçava, balangava, arrumava, matava o tempo, brincava, ou sei lá o quê. Só sei que ele meteu a mão ali dentro da cueca, procurou alguma coisa e achou. E ainda se demorou lá, sem o mínimo esforço em parecer discreto. Antes de tirar, deu uma coçadinha de praxe na parte de trás e se preparou pra atender um garoto que se aproximou.
A seqüência que se desenrola a partir daqui se passou quase que em câmera-lenta pra mim. Primeiro, raspou o gelo. Depois, colocou as raspas no copinho. Com a mão do delito, o traste comprime com capricho o gelo no copo, coloca a essência escolhida, pega o canudo e oferece o preparado a criança bisonha. O clímax desse filme de terror foi vê-la levando o canudo até a boca e sugar e sugar com todo gosto a bebida infecta.
É por isso que cortei raspadinhas da minha vida.
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15 comentários:
grande demais pro meu sono. depois leio. pri!
Laranja
meu irmão... essas coisas são mesmo fodas! SAca essa: estávamos um dia em e milena lanchando na Mundial Lanches da feirinha (NN, tu comeu lá, lembr?). Então, satisfeito q eu já estava, fiquei observando o movimento dos garçons. Eu sempre me assustei com a velocidade com q os caras fazem um cachorro quente ali, é muito rápido! Bom, fiquei de oho: o cara q fazia o cachorro quente tinha uma luva numa das mãos, a qual manejava o alimeto. A outra mão, desprovida de luva, ele manejava os componentes, como carne, verduras etc. Sempre através de uma colher, sem contato direto. Mas eis o crime: na hora de colocar a azeitona, o cara a segurava com a mão sem luva e punha sobre o cachorro. Na 1ª vez q vi, achei q fosse um ato falho e q naum ia se repetir. Mas não foi. mostrei pra Milena e ela tbm viu. Todas as azeitonas da Mundial Lanches são postas com a mão! E aí?
ailton | Homepage
Heheheh, você contou essa história com maestria, visualizei todas as cenas (afe! :/). Apesar de não tomar respadinha frequentemente, agora ficarei receosa ao avistar uma.... aquelas garrafinhas coloridas são convidativas...
Zabella
1) E VOCÊS NEM ME AVISARAM DA QUALIDADE DOS LANCHES DA MUNDIAL! SEU BANDO DE TRAIDORES!!! Mas num comi nenhuma azeitona lá, não; 2) Luis, meu queridão, nem dá pra processar o coitado...Nem teu estômago, aliás, deve processar uma coisa destas; 3) O final, "cortei as raspadinhas" é a cara de Itamar Franco. Revisem 1993 e me digam algo depois ;) Hehehe; 4) Foto de Fernando Antonio no flog. Essa sim vale milhões!
NN
hahahaha, ai, ai, ai, chorei agora. Graaaande Fluís, esse é o meu Ródion. Olha só: um dia fui numa padaria comer um misto. Vi o funcionário tirar dois pães de caixa de um saco que estava na prateleira pra ser vendida (!!), com as próprias mãos. Dois delito: 1) a falta de higiene. 2) o roubo de pães que estavam à venda. Ficamos eu e minha irmã boquaibertas, mas, fazer o quê? Criança come até terra, se estiver curiosa, e nem liga...
Dina
Quando eu estudava na escola técnica, uma gata deu cria numa das cadeiras da lanchonete. Tropeço, como era chamado um dos ajudantes de lá, limpou o sangue com o suposto pano que limpava a pia...nunca mais tive coragem de lanchar lá...
Raquel | Homepage
huahuahua tá aparecendo cada coisa sebosa!
ton ton
eu conhecia essa estória (tu me contou uma vez), mas o coitado do guiom tá aqui morrendo de nojo!
Gio
Luís p*rr*! Eu gostava que só de raspadinha. Acabasse com minha vida! /// Raquelzinha por aqui =))) Pode passar por debaixo da roleta!
Breno
aiiii, to aqui engúiando agora!
miss lexotan
Não consigo reler esse texto... :)
Zabella
Uma palavra:
ECAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
LuzClarita | Homepage
ecoww!!! Luís, por favor, eu não quero saber de onde vem a pipoca caramelada com leite moça lá da lagoa.. nem os churros, não poderia viver sem isso!! E o dito mais-que-perfeito é: "O que os olhos não vêem, o coração não sente"
PauLa
Muuuuito bom!!!
E eu estou com Paula, é bom parar por aí... Meus castelinhos não suportariam tanta verdade!
Lilith
Churro é outro que eu aboli do meu cardápio. Depois do que um deles fez comigo em Campina Grande, nunca mais. Traumatizou..
O chofer
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