Capaz de cegar
A filha teve uma crise de choro assim que chegou e viu. "A gente cega o amor pra depois ele cegar a gente", pensava enquanto mudavam as compressas do rosto dolorido. Àquela altura, nem pensava mais no acontecido, ou na véspera, que era o que daria para lembrar por um artifício típico da memória. Em volta dos olhos, alguns coágulos púrpuras tapavam-lhe as vistas completamente, condição esta que lhe roubava toda a atenção que era capaz de ter por algo depois de tudo.
Por ainda estar meio grogue, vivia as primeiras horas daquela sua deficiência temporária sem um pingo de aflição. Aparentava até um certo bem-estar em seu silêncio indolente, curiosa com as sutilezas sensoriais que aquela privação lhe permitia. Não havia mais casa, nem delegacia, desgosto, nem a enfermeira do posto, nem socos no rosto, dores, nem ela mesma: só os relevos da colcha da cama, o barulho das cortinas no chão tremulando com o vento e um cheiro até então imperceptível no quarto, que vinha dos ninhos do teto sem forro. Percebia que a cegueira era branca, ou verde, como a esperança, sei lá, porra, não dá pra ter senso nessas horas...
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A filha teve uma crise de choro assim que chegou e viu. "A gente cega o amor pra depois ele cegar a gente", pensava enquanto mudavam as compressas do rosto dolorido. Àquela altura, nem pensava mais no acontecido, ou na véspera, que era o que daria para lembrar por um artifício típico da memória. Em volta dos olhos, alguns coágulos púrpuras tapavam-lhe as vistas completamente, condição esta que lhe roubava toda a atenção que era capaz de ter por algo depois de tudo.
Por ainda estar meio grogue, vivia as primeiras horas daquela sua deficiência temporária sem um pingo de aflição. Aparentava até um certo bem-estar em seu silêncio indolente, curiosa com as sutilezas sensoriais que aquela privação lhe permitia. Não havia mais casa, nem delegacia, desgosto, nem a enfermeira do posto, nem socos no rosto, dores, nem ela mesma: só os relevos da colcha da cama, o barulho das cortinas no chão tremulando com o vento e um cheiro até então imperceptível no quarto, que vinha dos ninhos do teto sem forro. Percebia que a cegueira era branca, ou verde, como a esperança, sei lá, porra, não dá pra ter senso nessas horas...
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14 comentários:
"Percebia que a cegueira era branca, ou verde, como a esperança, sei lá, porra, não dá pra ter senso nessas horas... "
Lala
O priii é meu, gritado no MSN.
NN
Realmente, Luis escreve palavrão como quem escreve nome de flor...Nunca houve um "porra" tão bem colocado em toda a história. Esse menino é meu orgulho...
NN
Um pri que grita, hum.. e eu que achei estranho qd vi um que fumava...
Laranja | Homepage
O amor é como Vodka Natasha num fim de ano: capaz de cegar.
Helber
Me empresta umas palavras dessas.. prometo que devolvo assim q puder..
PauLa
Caraca, Bruno... Muito legal o texto, Luís, :)
Zabella
Luis é como uísque, quanto mais velho, mió. Eu acho do carai como tu compacta o texto, Luis.
ailton
Nooosssssaaaa, o q q é isso? Uma homenagem ao Dia das Mães?
Brincadeiras (d mau gosto, admito) a parte, o texto é contundente e ao mesmo tempo d uma sensibilidade incrível. Ler pode fazer sentir...
Tô quase terminando Crime e castigo... T devo a mesa redonda! (Q pode vir a ser um banco qq da Pça da Alegria, quem sabe?)
Xêro!!!
Farfalla | Homepage
pia a Farfalla.. hoho
Laranja
... Oh, oh, oh. Deu tudo erraaaaaado!
NN
Percebia que a cegueira era branca, ou verde, como a esperança, sei lá, porra, não dá pra ter senso nessas horas...
De repente, aqueles meus "puta que pariu" ficaram tão vazios e vulgares...
perfeito!
Susy
Ródio, esse negócio tava indo bem até que li um 'porra', mas aí o texto ganhou humor. Óia, eu inventei o meu tema único e atualizei.
Dina
posta logo sobre o hapesar!
bruno
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