sexta-feira, 24 de outubro de 2008

É desespero, é desespero...

Eu tento, mas não consigo ficar imune ao frenesi que toma conta de Campina por esses dias. Isto porquê estamos na última semana da campanha para prefeito, que terá o seu desfecho no próximo domingo. Se os ânimos seguirem se inflamando na proporção que vieram até aqui, é capaz de haver morte até a data do sufrágio. As tropas federais já foram acionadas. As casas já estão enfeitadas com a cor simpatizante. Nos bares, nas praças, nas cozinhas, não se fala em outra coisa. Futuro versus passado, novidade versus tradição. É Cabeludo pra lá, é Gordinho pra cá, o filho do Doutor Vital versus o filho do Taxista Zuzu. Os candidatos batem boca na rua, se desafiam. As denúncias pululam. A TV é saturada por um festival de "imagens estarrecedoras", "notícias de arrepiar" e "episódios lamentáveis". A turba vai ao delírio, salivando. As apelações vão chegando a níveis burlescos. O governador se licencia do cargo para apoiar o candidato do seu partido. Os cabos eleitorais rodam a cidade oferecendo quantias em troca dos números dos títulos de eleitor. Os carros de som perturbam a paz dos escritórios. As crianças agitam bandeiras. Os velhos se impacientam. E eu não vejo a hora de chegar a sexta-feira para poder fugir disso tudo.

Campina Grande é diferente de João Pessoa até nisso. Aqui na serra todo mundo meio que vive ligado em 220 volts, é um constante acirramento, todo dia é dia de Treze e Campinense, independente de ter jogo, independente de ser futebol. A própria geografia inspira isso, é toda instável, tem sempre uma ladeira, uma subida forte, uma descida brusca, diferente das emoções planas e sem sobressaltos que tomam conta dos ares da capital. Que é onde eu vou estar neste domingo, mas não sem ficar de olho nos boletins da apuração depois das 17 horas.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Welcome to the jungle

A cara que o senhor Antunes fez na frente do computador foi a coisa mais engraçada que Paulo tinha visto na vida.

- Como você conseguiu isso?

- Digamos que alguém lá em cima gosta muito de mim. Ou alguém lá em baixo, vai saber.

Não dava pra saber mesmo. No dia que fora demitido, Paulo encontrara um celular no chão do elevador. Só uma semana depois, num acesso de tédio, é q foi vasculhar o celular e quase teve um enfarto quando deu de cara com várias fotos de Juliana. As fotos não teriam nada demais se não fossem da filha do seu ex-patrão fazendo um strip-tease em 32 fotos altamente lúbricas. Na hora não viu outra destinação para aquelas fotos: era o que lhe daria seu emprego de volta.

- Não sabia que tinha dom para chantagem. – Disse um amigo.

- Nada. Questão de sobrevivência, saca?

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Infausta solução

Estelita estava mais desamparada do que no dia em que sua mãe morreu. Foi assim que estacara naquela encruzilhada. Por trás do esquecimento dos quatro grandes montes, se ouviu o grito rouco do seu pai quando dera pela sua falta. Estelita havia corrido descalça, com a roupa do corpo, em busca de um amor desatinado demais para se realizar. Quando chegou à praça, ouviu as botas dos homens do seu pai já bem perto. Não valia mais a pena ir.

Até poderia valer se à sua frente não estivesse Carminha com o seu séqüito de cupinchas armados para caça. Iam atrás da cabrocha que estava de namorico com seu marido. O dito que prometera o mundo para Estelita, e que agora fugia sozinho, deixando mala, Carminha, Estelita, e tudo mais para trás. De uma amiga lhe arrancaram o nome, e também pararam atônitos quando viram a própria vir correndo bem na direção deles. Sob o comando de Carminha, armaram a mira, foi quando Estelita parou.

Estelita ainda quis acreditar que havia uma saída, pela rua lateral, talvez. Isto se lá não estivesse o bando de Felinto que acabara de entrar na cidade disposto repor-se de mantimentos e, na saída, sacudir até o último vintém dos moradores. Pela cara deles, não havia polícia no mundo que pudesse lhes impedir. Muito menos os doze soldados que agora se punham de frente pra eles formando, então, junto com os homens de Carminha e os do pai de Estelita, um quadrilátero cujas principais linhas de tiro se entrecruzavam no ponto em que a cabeça da menina estava.

Um silêncio típico daqueles que antecedem desgraças se esparramou pela praça, e o vento, que açoitava os ouvidos, parou como se prendesse a respiração. Eram quatro e meia da tarde, e quando Robério, o homem mais novo de Felinto, se alvoroçou para dar o primeiro de uma série interminável de disparos, uma pedra do tamanho de um caminhão veio zunindo do céu e, com um estrondo improvável, abriu uma cratera que engolira metade da cidade.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

É só teatro

E eis que finalmente assisto a um show do Teatro Mágico. Minto. 70% do show, cheguei atrasado, mas ainda assim deu pra sacar qual era a deles. A banda, o grupo, ou trupe, sei lá, é uma das coisas mais badaladas do mundinho (metido a) indie nos últimos tempos, e tamanho o comentário, não perderia a chance de vê-los gratuitamente. Comentário este longe de qualquer consenso. Ultra-polarizado. Ou amam ou odeiam, sem meio-termo, o que é mais um atrativo.

Pra não dizer que não conhecia nada deles, lembro de ter visto uma matéria sobre eles na TV falando do show e da histeria das fãs. Histeria essa que pude comprovar ao vivo. O mais estranho não era nem o grau de devoção das fãs, era esse grau de devoção ser em Campina Grande. Ao que me consta a banda é de São Paulo, não toca no rádio, nem vai no Raul Gil. Eles têm Fã-clube em Campina, pensei, abobalhado. Pois é, quem ainda duvida do poder da Internet hoje está mais por fora do que talo de macaxeira.

Mas vamos ao show. De cara, uma má impressão. Sempre entre uma música e outra o vocalista com a cara pintada intercalava um textinho, um apêndice pra lá de ensaiado. Foi num desses que ele soltou “nosso site é .mus.br, não é ponto com, porquê com é comércio e o que a gente faz é música”. Aham. Meses atrás, a banda fez um show em João Pessoa cobrando 40 reais inteira e 20, estudante.

Felizmente não choveu, a Praça da Bandeira lotada. Lá no meio, eu, a pessoa mais por fora do planeta, sem saber cantarolar um verso, e em volta, a gurizada cantando as músicas do Teatro Mágico em uníssono, como que numa igreja. Cartazes, coraçãozinho pintado do rosto, e palminhas nas horas certas. No mais, nada lá muito arrebatador, ou vai ver eu que tô ficando velho. Umas melodias de Rock Nacional (Engenheiros?), somadas a uma tentativa de abordagem poética (coisa que o Cordel do Fogo Encantado já fazia), com umas temáticas coração bem Los Hermanos. E ainda tinha um violino fazendo umas intervenções e dois malabaristas pendurados num cordão. Tudo isso envolto numa aura de teatro e circo, que tornam o espetáculo ainda mais "cultural” (argh), terno e cândido. Pra mim, não passam de uns Emos que chegaram à universidade.

Pode não ter me convencido, mas tenho que admitir que são bastante competentes no que fazem. Comunicam bem o que querem, geram empatia. Afinal, não seria a toa que alguém sairia de casa com faixa na cabeça e com coraçõezinhos pintados nas bochechas.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Um comentário

Agora compreendo quando algumas pessoas simplesmente param de escrever. Não que tenham percebido que não sabem. Na maioria das vezes, os que tomam uma decisão dessas são exatamente aqueles que se dão bem com as palavras. O fato é que uma rotina corrida não abre tempo para a fruição de idéias. Foi assim que eu me dei conta de que literatura tem que ser um lance que tem que ser vivenciado. Não é pontual como fazer um artigo, ou uma crônica. Seja um romance, um conto, e principalmente poesia, a coisa tem que ficar reverberando na cabeça. Não basta ter uma idéia. Você tem que viver e sentir aquilo que você vai transformar em palavras. E depois tem que decupar cada frase em separado, para só depois encadeá-las e ver se o conjunto está bom. Comigo pelo menos funciona assim. Tinha que ficar atacando a idéia por diferentes lados, procurando um formato que fosse o mínimo criativo, mas que não ficasse "viajoso" ou obscuro demais. Enfim, algo que valesse a pena ser exposto. E como se não bastasse essa falta de tempo para "maturação" de idéias, ainda tem o senso crítico que vai se afunilando a cada dia.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

No século XIX

No século XIX, Baudelaire, após alguns goles de absinto, vociferava coisas desse tipo:

A partir desse momento, a sociedade imunda precipitou-se, como um único Narciso, para contemplar sua imagem trivial no metal. Uma loucura, um fanatismo extraordinário apoderou-se de todos esses novos adoradores do sol.

Ele falava da Fotografia. E isto porquê ele não conheceu os flogs, o Orkut, Photoshop, celular com câmera, etc, etc..

domingo, 30 de março de 2008

Morada

Quando os homens chegaram , encontraram Dona Lourdes na cozinha, sentada à mesa. A idosa olhava para o quintal, indiferente às grossas rach...