Nick Drake só gravou três discos. Morreu cedo, aos 27 anos. Como ele, outros também morreram nessa idade: Hendrix, Jim Morrison, Janis. Ao contrário desses, Nick Drake não conheceu a fama, nem o aplauso das grandes platéias. Não viu sua obra ser comentada, não chegou a ver a influência dos seus discos, nada. Viveu no lado B do estrelato, trilhando o outro caminho possível na trajetória de qualquer gênio: a ausência do reconhecimento de público, o completo fracasso, e no fim, a mágoa.
Enquanto Hendrix, Morrison e
Janis inauguravam uma nova era, com novos sons e novas abordagens, Nick Drake
gravava o seu primeiro disco, Five Leaves
Left (1969). Era quase que
estritamente folk, violão e voz, numa época em que as guitarras cada vez mais
estridentes viravam protagonistas dos espetáculos (até Dylan se rendera a ela). Avesso a entrevistas e a plateias, tímido, de uma introspecção quase patológica, Nick Drake raramente aparecia, nem se apresentava, no momento
em que turnês e shows em arenas já eram coisa corriqueira para qualquer
aspirante a ídolo.
Esse primeiro disco até que teve
uma boa aceitação, o que o fez partir com tudo o segundo trabalho. Arregimentou
uma banda, incorporou elementos do jazz, coros, solos de sax, contou com ajudas
de peso como Joe Boyd (Fairport Convention) e John Cale (Velvet Underground),
mas o disco não emplacou. Era Bryter
Later (1970), sua obra-prima, e ele sabia disso. Mas às portas dos anos 70,
com Led Zepelin, Yes e Bowie fazendo da grandiloquência e da afetação escadas
para o sucesso, ninguém deu a mínima ao disco daquele tímido trovador do
interior da Inglaterra.
Aí Hendrix, Morrison e Janis se foram, talvez sufocados por uma brutal sede de viver tudo ao mesmo tempo agora. Nick, lá no polo oposto, após juntar os
cacos de sua autoestima, partiu para um autoexílio de onde só sairia para o
cemitério. Retirou-se de um convívio do qual nunca fez parte de fato e
apagou-se distante das páginas das revistas e sem homenagens. Antes, gravou Pink Moon (1972), sozinho, quase de uma
tacada só, num último jorro de criatividade. É a sua carta de despedida, talvez
um dos discos mais contundentes da história.
Hoje Nick Drake é aclamado. De Billy Corgan a Renato Russo, passando por Belle and Sebastian, não falta quem exalte a sua genialidade. Uma vez Bráulio Tavares escreveu:
“o gênio, em geral, é aquele cara cuja obra gostaríamos de ter escrito, mas
cuja vida não ousaríamos jamais viver.” Não sei se Bráulio conhece Nick Drake,
mas o trabalho e a trajetória daquele inglês de 1.91 de altura só confirmam sua teoria.
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