The Beatles
"The Beatles" (a.k.a The White Album)
1968
1968. Pela definição de Zuenir
Ventura, o ano que não terminou. Em maio, uma onda de protestos varria a França
com uma violência sem precedentes. Àquelas alturas, Che e Luther King estavam
mortos, as atrocidades da Guerra do Vietnã vinham à tona, as ditaduras na
América Latina recrudesciam, a repressão à juventude ganhava ares de guerra
civil, e o mundo entrava numa convulsão que não se via desde que Hitler avançara
sobre a Polônia. Depois de uma década tomada por um sentimento de otimismo, a
geração do pós-guerra se viu imersa num mar de confusão e incerteza, e nenhum
outro disco conseguiu fotografar tão bem esse momento quanto The Beatles (1968).
Mas The Beatles, também
conhecido como “White Album”, não chega a ser um disco de protesto, de fato. As
mensagens estão lá, só que num subtexto quase subliminar, sutil. Críticas ao capitalismo, referências à corrida armamentista e ao clima de revolução permeiam o disco de uma forma que não chega a ser panfletária, mas que mostra que eles não estavam omissos. A capa toda
branca era um sinal de que alegria das cores lisérgicas já não fazia mais
sentido. Após marcarem a Psicodelia com o Sgt.
Peppers Lonely Hearts Club Band (1967), onde encarnaram uma banda de
fanfarra fictícia, os Beatles não só abandonam as personas como também retornam ao rock mais cru que podiam fazer,
numa mostra de que a realidade triunfava sobre o idealismo hippie.
Se havia tensões influenciando a
banda de fora pra dentro, internamente o grupo não ia bem das pernas. Depois da
desilusão com um guru de araque, da morte do empresário, da saída do produtor
George Martin, e da quase saída de Ringo, os Beatles entram num ritmo de
gravações onde o individualismo se tornara evidente. Cada vez mais distantes
uns dos outros, trabalhando em estúdios separados, ninguém mais compunha junto,
e ao final de uma briga de egos, decidem lançar 33 músicas naquele que se
tornaria o único disco duplo da banda.
Reggae, blues, folk, ragtime,
baladas, concretismo, rock, teve espaço para tudo no disco. Mas ao contrário de
Revolver (1966), os Beatles aqui não
procuraram uma direção enquanto grupo, tateando entre a tradição e o futurismo.
Em The Beatles, eles experimentavam a
liberdade criativa que nunca tiveram, longe de qualquer modismo ou imposição de
mercado, e ao buscarem caminhos individuais, fizeram da diversidade o conceito
do álbum. Foi um disco regado à angústias e choques vindos de todos os lados, e
como todos os grandes feitos artísticos, conseguiu se sintonizar às verdades do
seu tempo. (aqui)
Um comentário:
Para mim, foi um dos mais interessantes álbuns dos Beatles, por tudo citado no texto, mas, acima de tudo, pelas experimentações. Por mais que o estopim dessas iniciativas ao novo não tenha sido de caráter "reciproativo", o disco se tornou uma ode à diversidade musical focalizada e um atestado da capacidade individual de cada um dos membros.
Por um luto ou por um grito de paz, o White Álbum está mais para um casulo de seda dos outrora ácidos músicos.
Parabéns pelo texto e pelo blog como um todo! Já estou seguindo e linkando ao meu! Abraço!
Vi,
www.bardodataverna.blogspot.com
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