Odair José
Praça Tiradentes
2012
Odair José está vivo. Odair José não amansou.
Chamado de “Bob Dylan da Central do Brasil” nos anos 70, hoje Odair em cima do palco está
mais para um Neil Young. Como Neil, o show é alto, a bola fica lá em cima a
toda hora, o som não tem nada de “domesticado”. Muito bom ver que Odair não
caiu na tendência geral que é, a partir de uma certa idade, assumir uma
sonoridade mais “adulta”, tendendo ao easy-listening bossa-nova, focada nas
mamães e nas avós da platéia. Sua matriz é a mesma – algo entre o country-rock
e o pop sessentista – e seu discurso também não mudou. Não que ele tenha parado
no tempo. É que ele sempre foi atemporal.
Também não é revivalista,
não virou um cover de si mesmo, como Roger Waters. Nesse quesito Odair agora
parece mais com Paul McCartney. Ao invés de apenas relembrar com nostalgia “antigos
sucessos de um tempo que não volta mais”, de quando “estava em forma”, Odair
José toca músicas que nunca morreram. E essas mesmas músicas, partes
permanentes do inconsciente coletivo, servem de parâmetro não no nível da
comparação negativa (“ele nunca mais vai fazer algo assim”), mas sim mostrando
que as coisas atuais são tão fortes e pungentes quanto as anteriores. Pela
forma como tudo se sintoniza, não dá pra saber se ele era maduro antes ou se é
jovial hoje. No fim tudo é uma coisa só, o antes e o agora.
E Odair José tem música
nova? Tem sim. Depois de um tempo longe das paradas, farto dos descaminhos e da
picaretagem que assola a indústria da música no Brasil, Odair cedeu ao clamor
popular e reapareceu, reabilitado após o veredicto do tempo. Passada a era dos
preconceitos, em que uma elite cultural intelectualóide e invejosa apregoou o
rótulo de “bregas” nos maiores vendedores de discos do Brasil, Odair emerge
sendo o que ele sempre foi: um melodista de mão cheia. (Detalhe: pouca gente
sabe que Odair José gravou um disco conceitual nos anos 70, uma opera-rock,
qualquer dia eu falo disso).
O que Odair faz não é pra
qualquer um. Criar uma estrutura simétrica, coesa, e fazer uma história caber ali
dentro. E mais: ser perfeitamente cantarolável, isso sem apelar pros
monossílabos infantis da temporada. Nele não há nada industrial, tem uma
verdade ali. E tudo continua assim em “Praça Tiradentes” (2012). Talvez seja a mesma praça de "Eu, você e a Praça", de 1973, mas agora o ponto de vista transcende o do narrador: Odair José passa em revista todo o seu universo, simbolizado aqui por uma praça, com todos os seus personagens e seus encontros marcados, transitórios e fugazes. Mais do que
romantismo, mais do que o “simples” falar de amor, Odair continua trazendo
crônicas íntimas, relatos reflexivos sobre emoções e vivências universais, sem
exageros, nem frivolidades. Ao invés de enfeitar o que já existe, Odair José
parte de situações reais e do meio delas mostra o que nos move, o que nos torna
humanos. O que será que será?
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