
Mas se não faz nada disso, a chance de gostar desse livro também é grande. Digo isto porque o livro não trata exatamente de música, não é voltado apenas para aficionados, seria até um erro achar isso. O seu ponto de partida é a adoração de Duncan por Tucker Crowe, um músico relativamente famoso nos anos 80 que decide abandonar a carreira de uma hora para outra, justo quando alcançava o seu melhor momento com um disco que acabara de lançar – Juliet.
A partir daí vamos conhecendo pouco a pouco o caráter tanto de Tucker, de Duncan, e de sua esposa Annie (quase obrigada pelo marido a embarcar no culto ao cantor), até chegarmos ao ponto em que esses três personagens acabam se envolvendo num conflito que vai além do gosto pela música. Porque a grande matéria-prima de Juliet, Nua e Crua não são os discos de Tucker nem as bobagens que um fã é capaz de fazer: é a própria vida, as decisões que se toma (e as que não se toma), e a forma como lidamos com as suas conseqüências. Como pano de fundo, está a música, a arte, e uma breve discussão sobre o que é maior: a vida, a arte ou artista. Assim como em Alta Fidelidade (romance que deu projeção a Hornby, até virou filme) essas questões surgem em meio à cisões de relacionamentos e descobertas, tudo isto carregado de referências pop e de um fino humor auto-depreciativo (bem inglês, por sinal).
Imprevisível sem ser forçado, econômico sem ser simplório, Juliet, Nua e Crua atinge em alguns momentos uma emoção intensa justamente por aquilo que não é dito, e é aí que Nick Hornby se revela um escritor altamente sagaz: por ser tão sensível à música, ele sabe que às vezes são esses silêncios que dão todo sentindo àquilo que ouvimos.