sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Aquela velha história

Banda: Oasis
CD: (What’s The Story) Morning Glory?
Lançamento: 1995

Em 1995, o Oasis acabava de entrar naquela roda viva que leva a todos os que ousam fazer sucesso dos dois lados do Atlântico. O vácuo que ficara com o sumiço do Grunge (simbolizado pela morte do seu principal herói) alavancou aquela banda do interior da Inglaterra ao posto de maior fenômeno da ilha da Rainha, e foi preciso apenas um disco feito em intervalos de shows para que ela se transformasse na maior banda do mundo.

(What’s The Story) Morning Glory? (1995) foi um dos pontos-chave dos anos 90. Ao mesmo tempo em que abriu as portas para uma nova invasão britânica aos EUA, o Oasis recolocava a Inglaterra no centro do mundo após anos de apatia shoegazer. Mas isso não se deu apenas pela carência de um protagonista de peso no cenário da música. Aquela foi a volta do guitar rock capaz de mover multidões como torcidas de futebol, coisa que não se via desde os Smiths. A retomada da atitude genuinamente rocker mais o senso pop do Noel Gallagher eram as principais virtudes de um grupo que não tinha vergonha de vender muitos discos, que funcionava tanto num estádio lotado como num estúdio, e que era tão bom distorcido quanto acústico.

Ao passar em revista toda a tradição do rock inglês (dos Beatles a Bowie, de Slade a Paul Weller), o Oasis abandona a sujeira dos primeiros anos para criar um universo novo e familar, que não tinha nada de dançante, nem vanguardista e também nenhum limite. Essa liberdade toda culminou com alguns dos maiores clássicos do seu tempo, que transitavam entre a doçura mais pop (Wonderwall, Don’t Look Back In Anger, Cast No Shadow) e os timbres mais estridentes (Morning Glory, Roll With it). Como todo hit singles pack, ao mesmo tempo em que nasceu destinado ao sucesso, (What’s The Story) Morning Glory? se tornaria o parâmetro insistente para tudo o que fariam depois.

- Hello

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Os quatro elementos primordiais

Banda: Novos Baianos
Album: Acabou Chorare
Lançamento: 1972

"Lá vem esses baianos de novo". Foi o que muita gente deve ter pensado quando todo mundo cantava "Preta Pretinha" como se tivesse nascido sabendo a letra. Nas décadas anteriores, a partir dos anos 40, sempre um representante da Bahia estaria na linha de frente da música brasileira: primeiro Dorival Caymmi passando todas as dicas pra Carmem Miranda, depois João Gilberto subvertendo o samba e ganhando o mundo, e a Geração Tropicalista inaugurando o mundo moderno em 68. Era a chamada “Máfia do dendê” já com status de instituição. Na virada para os anos 70, a escrita era mais uma vez mantida, só que agora através de um grupo batizado com o sintomático nome de Novos Baianos.

A proposta dos Novos Baianos, ao mesmo tempo que tinha um enorme sabor de novidade, parecia condensar tudo o que os seus predecessores lançaram. No seu segundo disco, - Acabou Chorare (1971) - estão presentes o canto seminal de Caymmi e o apuro de João Gilberto, sem deixar de lado a inventividade, a ousadia e os timbres do rock que os tropicalistas haviam posto na roda. Em “Mistério do Planeta”, Paulinho Boca de Cantor confirma isso: “Pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus, ou vestidos de lunetas, passado, presente: participo sendo o mistério do planeta”. Era o testemunho de uma banda atemporal que fazia a ponte entre o presente elétrico e o ideal bossanovista, citando um dos versos clássicos do poetinha de Ipanema (“a vida é a arte do encontro”).

E o encontro daquele grupo (além de Paulinho, Morais Moreira, Pepeu Gomes e a carioca Baby Consuelo) redundaria numa música ao mesmo tempo popular, forte e sofisticada (como toda obra grandiosa é). De posse de um repertório tão múltiplo quanto influente, aquele misto de colônia hippie, time de futebol e trupe mambembe, reunia os heróis ideais de uma época cujos heróis corriam o risco de serem extirpados do convívio, onde a felicidade servia de antídoto para a amargura de um mundo pós-AI 5. (“A menina dança”, “Besta é tu”)

Acabou Chorare é até hoje o cartão de visita desse grupo que foi um dos mais criativos que o Brasil já viu. Sua música permanece viva, atual e inqualificável, gravitando entre o samba de roda, a MPB e o rock. Quase 40 anos depois, ele se tornou tudo o que os "cantores de barzinho" da música brasileira queriam ser e não conseguem.

- Eu ia lhe chamar

::: Mais Novos Baianos e Acabou Chorare aqui.

Morada

Quando os homens chegaram , encontraram Dona Lourdes na cozinha, sentada à mesa. A idosa olhava para o quintal, indiferente às grossas rach...