Pela grande avenida que corta toda Natal, chegamos ao bairro da Ribeira, no extremo oposto da cidade. É lá que fica o local do show, o Galpão 29, próximo à zona portuária. Esse bairro é o equivalente ao nosso Varadouro. Outrora um lugar rico, onde a cidade nasceu na forma de casarões aristocráticos e armazéns pra todo lado. Hoje, a parte esquecida, marginal e fedorenta, onde o rock tem que se abrigar.
Na mesma ruela do Galpão 29 está o Bar DoSol, que é do pessoal que organiza o festival citado, e quando chegamos já estava rolando coisa por lá, por volta das da dez. Além do calor na cara, bem familiar, a paisagem também não era de todo estranha: vimos o povinho que só fica na frente dos bares e nunca entra, os vendedores de cerveja, e os onipresentes olhadores de carros. Mas quando entramos no tal galpão, a coisa mudou. Ficamos impressionados com o tamanho da casa, com o equipamento que eles tem lá, som, luzes, um mesário solícito, tudo bem profissional. Se aquilo fosse varrido de vez em quando, seria perfeito, e talvez não tivesse tanta barata (só no palco matamos quatro ou cinco).
O show começou meio chocho, tocamos duas músicas pra ninguém, mas devagarinho as pessoas foram entrando. A pequena platéia que se formou logo se dividiu em dois flancos: o daqueles aqueles de rostos contritos, sérios como quem analisa, e outro composto por garotas com jeito de quem faz Comunicação ou Psicologia, visual neo-hippie, tattoos, e sem vergonha de dançar. No fim do show, essas mesmas garotas puxaram um coro de “bis”, mas a organização não permitiu que tocássemos mais uma. Depois ainda vendemos uns CDs, vieram falar com a gente, no geral foram bem receptivos conosco, clima bom. Pra uma banda com pretensões nem tão modestas, uma viagem dessas é um belo teaser de como é a vida na estrada: muita risada, muita diversão, mas também muito cansaço, muito problema técnico, e claro, muita barata.