domingo, 18 de fevereiro de 2007

Mudanças


Quando se levantou, sentiu a dor do último vestígio de esperança sendo estrangulado. Não encontrava no olhar de Eunice um mínimo resquício, um rastro sequer, daquele brilho que o seu olhar sempre lhe brindava. "Isto é tudo?", ele perguntou, e ela se limitou a assentir, sem piscar, sem falar. Adalberto olhou para o peito dela e viu o volume dos curativos, e imaginou a cisão por baixo deles, e os pontos que guardaram dentro dela o abismo em que ele agora caía de cabeça para baixo. A mãe de Eunice lhe levou até a porta, desconsolada. "É a escolha dela, né?", disse ela, sôfrega, e a resposta dele foi apenas um sorriso apático. "Qualquer dia você aparece, aí conversam mais um pouquinho", ela completou mas ele não chegou a ouvir. Estava atordoado demais para perceber algo além da ilha de desalento que virara. Recusava-se a aceitar aquela situação, era uma idéia simplista demais, para não dizer prosaica, patética, ridícula. Um transplante de coração não é capaz de mudar os sentimentos de ninguém, os sentimentos estão na cabeça, porra! Mas de qualquer forma tudo isso era muito intrigante. Menos para o próprio Adalberto, que agora andava sem chão e dormia o sono intranqüilo dos contrariados no amor.

Morada

Quando os homens chegaram , encontraram Dona Lourdes na cozinha, sentada à mesa. A idosa olhava para o quintal, indiferente às grossas rach...