quarta-feira, 16 de maio de 2007

O fantástico método Susy


Depois da desilusão, do desalento, e da vontade de morrer, Susy emergia reconfortada. Parecia alguém que dormia durante um filme e acordava de repente: "perdi alguma coisa?". Ia tomar café com a cara meio amassada, os olhos ainda inchados, rindo até da toalha da mesa e do formato dos pãezinhos. A família nem estranhava mais aqueles comportamentos. Afinal, ela acabava alcançar uma marca notável: era a décima desilusão amorosa em dez anos.

Suas amigas eram sempre relutantes, não abriam um milímetro do coração sem que hesitassem bastante, e isso quando abriam. Susy, não, se escancarava logo. Em poucas semanas já estava cheia dos eu te amos, escolhendo o nome dos filhos, pensando o feitio da casa, essas coisas. O problema era que, com mais uns meses, o namoro, por mais firme que estivesse, acabava subitamente. Parecia maldição, praga de viúva, karma ruim, vai saber. Sempre, lá pelos nove, dez meses, quando ela enfim atingia os píncaros da paixão desenfreada, aparecia algo que causava um abalo no namoro, e tudo desmoronava logo seguida. E o que vinha depois desses finais também tinha a duração conhecida, quase cronometrada. Os dois meses após o rompimento eram uma treva só: muito choro, caixas de lenço, dores de estômago, fraqueza, desânimo, mais choro, e vários outros efeitos colaterais de uma depressão repentina.

No mês seguinte, Susy limitava-se a juntar os caquinhos de si, tentando retomar a vida, tentando não ceder às lembranças das sensações e dos sonhos que pareciam tão eternos, e como é sempre doloroso ter isso tudo arrancado depressa. Daí, no quarto mês após o término do romance, Susy estava outra, estava nova, de volta à ativa, pronta para o ataque ou para ser atacada. Antes da metade deste mês, ela já iniciava conversas com um novo pretendente, e aí o ciclo recomeçava. Suas amigas a tinham como uma verdadeira louca, sem um pingo de amor-próprio, isto porquê ninguém sabia o que ia pela sua cabeça. Desde sempre tendo problemas com a balança, Susy descobriu na sua primeira desilusão que emagrecera mais naqueles meses de tristeza do que numa vida toda de dietas. É, o raciocínio era meio suicida, mas no fim valia a pena. Quando se curava totalmente, ela estava uns quilinhos mais magra, mais linda e mais gostosa, o que tornava os recomeços cada vez mais fáceis.

3 comentários:

Luís Venceslau disse...

No dia que ela pegar cólera, nunca mais vai querer saber de amar. Provavelmente vai até guardar em alguma incubadora para outras oportunidades que quiser perder mais peso.

Mythus | Homepage

Luís Venceslau disse...

uma tristeza premeditada. hum.. tão original quanto improvavel.

o cítrico

Luís Venceslau disse...

se eu fosse emagrecer cada vez que eu ficasse triste, tava fudjida. quando eu fico triste eu como! há alguns minutos atrás fábio disse "tu tá gordinha". é, tem sido dias difíceis... ¬¬

luciola | Homepage

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