terça-feira, 23 de novembro de 2004
O último crepúsculo
Carmen não imaginava que pudesse sair da boca de alguém um ar tão quente como o que saiu da de Gustavo. Sentiu-o na sua nuca, depois do estampido e antes dele cair. Antes de também ir ao chão, Carmen viu Leopoldo envolto numa moldura embaçada, com os olhos no revólver fumegante como se perguntasse porra, Carmen, por que você foi se meter entre a bala e esse infeliz. Quando enfim caiu, Carmen estava perplexa demais para sentir dor. Ainda assim ouviu o grito de bala alojada de Gustavo espantar uma revoada, enquanto seu sangue manchava de vermelho aquele fim de tarde inevitável.
quinta-feira, 18 de novembro de 2004
terça-feira, 9 de novembro de 2004
Elevação
Vista a pele de cordeiro
Perca o meu paradeiro
Para depois me achar
Pelo cheiro.
Desamarre meus cadarços
Embaralhe meus passos
Nessa valsa, embale-me
Nos teus braços.
Seja o iceberg do meu Titanic
A formiga do meu piquenique
Seja a causa, o acaso
que nunca se explique.
Eu sou a ovelha a ser desgarrada
Eu sou a alma a ser desviada
Faça tudo para me tirar
Do nada.
quarta-feira, 3 de novembro de 2004
Cem Anos de Desilusão
Já enterrei minha última quimera
Formidavelmente
E depois de navegar precisamente
Topei com uma pedra no meio do caminho.
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