quinta-feira, 18 de julho de 2019

Todo dia é isso


Foi assim: Neguinho chegou na casa de Deivison era umas quatro e meia, por aí. Dona Socorro não viu quando ele saiu, mas Dayane ouviu a porta batendo. Coisa estranha. Ir na casa dos outros uma hora dessas, de madrugada, tudo escuro ainda. No outro dia, Dona Socorro foi perguntar se Dayane sabia de Deivison, sabia nada, Dayane não sabia de nada, não sabia nem dela mesma, só via Deivison todo estranho, calado, andando pra cima e pra baixo com Neguinho, falando que iam fazer uma parada, parada isso, parada aquilo, capaz de terem ido fazer essa tal parada hoje, Dayane dizia. Olhe, só Jesus, viu, Dona Socorro ficava irada, não gostava de Deivison de amizade com Neguinho, sabia que Neguinho era errado, já pintou mizera nesse bairro, foi preso quando era de menor, agora qualquer coisinha era presídio, sem boquinha. Mas Neguinho queria um parceiro, e colocou Deivison na fita, ia dar certinho. Deivison era desenrolado, botou o ferro na cintura e meteram o pé na moto. Seis e meia, pessoal no ponto de ônibus, Neguinho passou devagar e Deivison falou “bora, bora”. Lá na frente fez a volta e voltou ligeiro. Deu nem tempo parar e fazer a limpa, dois balaços e os dois no chão, cabou-se, papai. Tinha um p2 armado no ponto de ônibus, aí já era. Dona Socorro chegou chorando, Dayane também. Aí veio a viatura, o Samu, o rabecão, a TV, veio o povo olhar, o repórter fala com uma moça, aqui todo dia é isso. Todo dia.

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