Muitos anos atrás, quando a finada MTV ainda servia de referência musical, conheci o Belle & Sebastian e a paulada foi forte. Era o Lado B, com o Kid Vinil, apresentando um especial com vários clipes da banda que acabava de ter os discos lançados no Brasil. Pra mim, aquilo era algo inteiramente novo, e familiar ao mesmo tempo. Era belo, melancólico, e irretocável do ponto de vista instrumental e melódico. Pouco depois, desatando um novelo de influências e antecedentes, fui descobrindo que a banda fazia parte de uma tradição que vinha já desde anos 80, nascida no meio do cenário alternativo, num estilo que se chamaria Indie Pop. Se o Indie Rock (que depois viraria um estilo à parte do rock alternativo, ambos nascidos do Pós-Punk) se tornara um vertente marcada por guitarras mais sujas e pela ausência de pretensões populares, o Indie Pop chegaria como um lado mais doce e ganchudo desse universo, focado principalmente nas melodias, com mais ou menos guitarras, como a banda preferisse.
Do meio desse mesmo cenário alternativo do começo dos anos 80 surgiram outras vertentes primas-irmãs do Indie Pop (Jangle Pop, Chamber Pop. Twee Pop), ambientes pelos quais muitas bandas transitariam com liberdade ao longo de suas carreiras, e na maior parte do tempo sem se fixar a nenhum deles. É por isso que rótulo é um negócio difícil de se lidar, muita gente não cabe em um só, quem se mete a fazer classificações geralmente acaba sendo reducionista. Mas falando em termos bastante gerais, vejamos cinco discos que podem dar uma visão do que seria esse negócio chamado Indie Pop:
Os Smiths não seriam apenas a banda indie definitiva dos anos 80: eles lançariam as bases do que se tornaria o Indie Pop no fim daquela década, início da próxima. Ainda que trouxessem muito da ideologia do Punk (a crueza do som) e do Post Punk (a ênfase no sentimento), os Smiths se aprofundaram na questão da timidez e do imaginário do “loser”, ao contrário do espírito vencedor, másculo toda vida, e agressivo que o rock vinha consagrando desde os anos 70. “The Queen Is Dead” foi o ponto alto da carreira da banda, a consagração para além do público alternativo, com um disco cheio de hits que mesclavam a urgência herdada do Joy Division com a presença de violões de Johnny Marr. “Bigmouth Strikes Again”, “The Boy With The Thorn With This Side” e a balada trágica “There’s a light that never goes out”, falam por si. (aqui)
A New Musical Express já tinha uma certa tradição de lançar coletâneas em fitas desde o começo da década até que em 1986 a revista lança aquela que se torna quase um manifesto indie. Mais do que uma coletânea de bandas desconhecidas e sem gravadora, a NME86 provocou um impacto tão grande que C86 passaria a designar um estilo dentro do indie (com uma sonoridade ainda mais crua mas com estruturas que não remetiam mais ao punk). A NME86 não só daria destaque àquelas bandas como também abriria espaço para uma série de bifurcações que o Indie Pop teria já a partir de meados dos anos 80 (do twee pop, passando por um lado mais noise pop, até o shoegaze). Entre os nomes que compunham a fitinha estavam The Wedding Present, Shop Assistants, além do Primal Scream e do Soup Dragons, que se tornariam estrelas da geração seguinte, já no Britpop. (aqui)
Se nos Smiths o ponto de partida foi o Post Punk obscuro do Joy Division, os escoceses do Belle & Sebastian recorreriam primeiramente aos recursos mínimos do Folk Rock, dos anos 60. Dessa década, a banda também se inspiraria no canto de Simon & Garfunkel e no cuidado instrumental de Burt Bacharach. Pronto. Estava assim montado o arsenal de melodias com aquela timidez contida, outonal, que por vezes remete às trilhas sonoras do Snoopy e ao intimismo de Nick Drake. “Fold Your Hands Child, You Walk Like a Peasant” trás tudo isso e aquele que seria o maior hit da banda (“Wrong Girl”), ainda hoje presença obrigatória nos set lists dos shows. (aqui)
No momento em que o Belle & Sebastian partiria para uma incursão pelo lado mais solar dos anos 60 (materializado na música dos Beach Boys), os também escoceses do Camera Obscura se manteriam fiéis aos mandamentos trazidos pela banda de Stuart Murdoch. Mas mais do que meros seguidores do Belle, o Camera Obscura tinha diferenciais interessantes como o predomínio do vocal feminino de Tracyanne Campbell, um tanto frágil, sincero, em contraste com uma sonoridade vibrante muito inspirada na ambiência de Phil Spector e suas Girls Groups lá dos anos 60. O último disco (“Desert Lines”, 2012) parece apontar para direções mais distintas e mais sóbrias em relação àquelas que celebrizaram a banda, mas “Let's Get Out of This Country” (2004) ainda é o cartão de visitas dessa que, pelo menos pra mim, é uma das maiores descobertas desta década. (aqui)
Essa banda pegou todo mundo de surpresa. Parecia um apanhado geral de quase 20 anos de Indie Pop, do C86, passando pelos já citados Belle & Sebastian, Camera Obscura, os suecos do Club 8 e outros nomes mais respeitados no circuito underground (como The Softies, Heavenly, School). Mesmo com tantas referências, ninguém teve do que se queixar do som dessa banda de Illinois. Sua personalidade está lá, os vocais delicadíssimos e os refrões extremamente ganchudos desmontam qualquer argumento de que a banda seja apenas um papel carbono de expoentes anteriores do estilo. (ouça aqui)
Do meio desse mesmo cenário alternativo do começo dos anos 80 surgiram outras vertentes primas-irmãs do Indie Pop (Jangle Pop, Chamber Pop. Twee Pop), ambientes pelos quais muitas bandas transitariam com liberdade ao longo de suas carreiras, e na maior parte do tempo sem se fixar a nenhum deles. É por isso que rótulo é um negócio difícil de se lidar, muita gente não cabe em um só, quem se mete a fazer classificações geralmente acaba sendo reducionista. Mas falando em termos bastante gerais, vejamos cinco discos que podem dar uma visão do que seria esse negócio chamado Indie Pop:
The Smiths - The Queen Is Dead
Os Smiths não seriam apenas a banda indie definitiva dos anos 80: eles lançariam as bases do que se tornaria o Indie Pop no fim daquela década, início da próxima. Ainda que trouxessem muito da ideologia do Punk (a crueza do som) e do Post Punk (a ênfase no sentimento), os Smiths se aprofundaram na questão da timidez e do imaginário do “loser”, ao contrário do espírito vencedor, másculo toda vida, e agressivo que o rock vinha consagrando desde os anos 70. “The Queen Is Dead” foi o ponto alto da carreira da banda, a consagração para além do público alternativo, com um disco cheio de hits que mesclavam a urgência herdada do Joy Division com a presença de violões de Johnny Marr. “Bigmouth Strikes Again”, “The Boy With The Thorn With This Side” e a balada trágica “There’s a light that never goes out”, falam por si. (aqui)
NME - C86
A New Musical Express já tinha uma certa tradição de lançar coletâneas em fitas desde o começo da década até que em 1986 a revista lança aquela que se torna quase um manifesto indie. Mais do que uma coletânea de bandas desconhecidas e sem gravadora, a NME86 provocou um impacto tão grande que C86 passaria a designar um estilo dentro do indie (com uma sonoridade ainda mais crua mas com estruturas que não remetiam mais ao punk). A NME86 não só daria destaque àquelas bandas como também abriria espaço para uma série de bifurcações que o Indie Pop teria já a partir de meados dos anos 80 (do twee pop, passando por um lado mais noise pop, até o shoegaze). Entre os nomes que compunham a fitinha estavam The Wedding Present, Shop Assistants, além do Primal Scream e do Soup Dragons, que se tornariam estrelas da geração seguinte, já no Britpop. (aqui)
Belle & Sebastian – Fold Your Hands Child, You Walk Like a Peasant
Se nos Smiths o ponto de partida foi o Post Punk obscuro do Joy Division, os escoceses do Belle & Sebastian recorreriam primeiramente aos recursos mínimos do Folk Rock, dos anos 60. Dessa década, a banda também se inspiraria no canto de Simon & Garfunkel e no cuidado instrumental de Burt Bacharach. Pronto. Estava assim montado o arsenal de melodias com aquela timidez contida, outonal, que por vezes remete às trilhas sonoras do Snoopy e ao intimismo de Nick Drake. “Fold Your Hands Child, You Walk Like a Peasant” trás tudo isso e aquele que seria o maior hit da banda (“Wrong Girl”), ainda hoje presença obrigatória nos set lists dos shows. (aqui)
Camera Obscura - Let's Get Out of This Country
No momento em que o Belle & Sebastian partiria para uma incursão pelo lado mais solar dos anos 60 (materializado na música dos Beach Boys), os também escoceses do Camera Obscura se manteriam fiéis aos mandamentos trazidos pela banda de Stuart Murdoch. Mas mais do que meros seguidores do Belle, o Camera Obscura tinha diferenciais interessantes como o predomínio do vocal feminino de Tracyanne Campbell, um tanto frágil, sincero, em contraste com uma sonoridade vibrante muito inspirada na ambiência de Phil Spector e suas Girls Groups lá dos anos 60. O último disco (“Desert Lines”, 2012) parece apontar para direções mais distintas e mais sóbrias em relação àquelas que celebrizaram a banda, mas “Let's Get Out of This Country” (2004) ainda é o cartão de visitas dessa que, pelo menos pra mim, é uma das maiores descobertas desta década. (aqui)
Very Truly Yours - Things You Used to Say
Essa banda pegou todo mundo de surpresa. Parecia um apanhado geral de quase 20 anos de Indie Pop, do C86, passando pelos já citados Belle & Sebastian, Camera Obscura, os suecos do Club 8 e outros nomes mais respeitados no circuito underground (como The Softies, Heavenly, School). Mesmo com tantas referências, ninguém teve do que se queixar do som dessa banda de Illinois. Sua personalidade está lá, os vocais delicadíssimos e os refrões extremamente ganchudos desmontam qualquer argumento de que a banda seja apenas um papel carbono de expoentes anteriores do estilo. (ouça aqui)
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