Ednéia tinha vinte e sete anos, cinco meses e nenhum namorado. Chegara assim àquela idade por culpa de excessos, de cuidados de um pai melindroso, e de uma timidez doentia, da sua parte. Mas não era por ser envergonhada que Ednéia não tinha lá suas vontades. Levava seus ímpetos imaginativos a base de um truque colegial ensinado por uma amiga: abocanhar uma maçã, sorve-la firmemente, era quase como beijar o homem. Com o pudor que lhe era tão natural, testou o fruto com certo acanhamento, mas com o tempo foi tomando gosto e àquelas alturas era o que chegara mais perto de realizar os seus desejos mais lúbricos. Um dia, D. Marluce, sua mãe, conversava com uma vizinha sobre casamentos, quando percebeu que a filha estava quase beirando os trinta e nada de nenhum rapaz aparecer para visitá-la. Aterrorizada, tratou de pensar no que poderia fazer para arrumar as coisas para a filha e se lembrou que o filho mais novo de sua tia-avó, o Natércio, estava na cidade. Deu um jeito de chamá-lo e no dia seguinte o homem já estava almoçando com eles, sentado à mesa num lugar cuidadosamente arrumado para que ficasse de frente para Ednéia, e quem sabe cruzasse com ela um olhar ou outro, durante a refeição. Dali para frente, Natércio passsou a ir sempre à casa de suas primas distantes, e conversava mais com Marluce do que com Ednéia, embora sua mãe lhe obrigasse ficar ali enquanto ela só pensava no saco de maçãs novinhas que lhe esperava na cozinha.
Foi tão grande a insistência, os empurrões e a força das combinações às escondidas que Ednéia mal percebeu quando noivara com Natércio. Ou melhor, foi noivada, já que foi a mãe que intermediou tudo, das frases rituais até a entrega do anel, que Ednéia imaginava que fosse um presente dela até que se deu conta do dedo da mão em que a jóia estava. E foi assim, meio a contra-gosto, meio sem saber de nada, que Ednéia foi levando um noivado sem conversas que terminou num casamento com um homem que ainda era praticamente um estranho.
Na nova casa, Natércio só pensava em finalmente consumar o seu casamento, já que em seis meses de namoro e noivado mal tocara na moça. Mas Ednéia não queria saber de nada, lhe tratava a base de repelões e recusas, dia e noite. Numa madrugada, Natércio fora no banheiro e flagrou Ednéia sentada no vaso sanitário, só de hobby, chupando uma maçã enquanto um líquido que era uma mistura de suco e saliva descia pela sua boca e escorria por entre os seus seios. Tão extasiada, tão fora de si ela estava, que mal notou que Natércio estava parado na porta, boquiaberto. O homem até achou que aquilo se tratava de algum tipo de sonambulismo, mas descartou a idéia quando começou a flagrar Ednéia, em horas diferentes do dia, agarrada à uma maçã como um bezerro faminto no úbere na mãe.
Numa noite, depois de mais uma sessão de beijos com a maçã, Ednéia foi se deitar e nem percebeu que Natércio ainda estava acordado, com os olhos vidrados no teto. Ela mal havia se arrumado nas cobertas quando o homem virou-se de repente, arrancou seu lençol de um golpe e se colocou entre as suas pernas, enfim, pronto para o ato esperado. Mas Ednéia era forte, tentava se desvencilhar, retorcia-se indócil, não queria aquilo de jeito nenhum, e no meio daquela luta silenciosa, em pleno leito conjugal, Ednéia se viu sufocada, não pela mão de Natércio, mas por uma maçã que seu marido comprimia sobre sua boca, até que ao sentir o cheiro e o gosto tão familiares, seu corpo foi relaxando, e em meio àquele desfalecimento, diante da investida fugaz, Ednéia foi sendo perpassada por frêmitos que nunca sentira, atinando para partes suas que parecia que nem possuía. E então, depois tudo, dos uivos, da semi-inconsciência, da vista turva e do suor exasperado, Ednéia chegou ao ouvido de Natércio e soltou um sussurro doce, e ao mesmo tempo, imperioso: “Da próxima vez, deixe as maçãs para o café da manhã”.
Foi tão grande a insistência, os empurrões e a força das combinações às escondidas que Ednéia mal percebeu quando noivara com Natércio. Ou melhor, foi noivada, já que foi a mãe que intermediou tudo, das frases rituais até a entrega do anel, que Ednéia imaginava que fosse um presente dela até que se deu conta do dedo da mão em que a jóia estava. E foi assim, meio a contra-gosto, meio sem saber de nada, que Ednéia foi levando um noivado sem conversas que terminou num casamento com um homem que ainda era praticamente um estranho.
Na nova casa, Natércio só pensava em finalmente consumar o seu casamento, já que em seis meses de namoro e noivado mal tocara na moça. Mas Ednéia não queria saber de nada, lhe tratava a base de repelões e recusas, dia e noite. Numa madrugada, Natércio fora no banheiro e flagrou Ednéia sentada no vaso sanitário, só de hobby, chupando uma maçã enquanto um líquido que era uma mistura de suco e saliva descia pela sua boca e escorria por entre os seus seios. Tão extasiada, tão fora de si ela estava, que mal notou que Natércio estava parado na porta, boquiaberto. O homem até achou que aquilo se tratava de algum tipo de sonambulismo, mas descartou a idéia quando começou a flagrar Ednéia, em horas diferentes do dia, agarrada à uma maçã como um bezerro faminto no úbere na mãe.
Numa noite, depois de mais uma sessão de beijos com a maçã, Ednéia foi se deitar e nem percebeu que Natércio ainda estava acordado, com os olhos vidrados no teto. Ela mal havia se arrumado nas cobertas quando o homem virou-se de repente, arrancou seu lençol de um golpe e se colocou entre as suas pernas, enfim, pronto para o ato esperado. Mas Ednéia era forte, tentava se desvencilhar, retorcia-se indócil, não queria aquilo de jeito nenhum, e no meio daquela luta silenciosa, em pleno leito conjugal, Ednéia se viu sufocada, não pela mão de Natércio, mas por uma maçã que seu marido comprimia sobre sua boca, até que ao sentir o cheiro e o gosto tão familiares, seu corpo foi relaxando, e em meio àquele desfalecimento, diante da investida fugaz, Ednéia foi sendo perpassada por frêmitos que nunca sentira, atinando para partes suas que parecia que nem possuía. E então, depois tudo, dos uivos, da semi-inconsciência, da vista turva e do suor exasperado, Ednéia chegou ao ouvido de Natércio e soltou um sussurro doce, e ao mesmo tempo, imperioso: “Da próxima vez, deixe as maçãs para o café da manhã”.