
A pergunta de Políbio foi o estopim para a maior crise de poder jamais enfrentada por aquele pequeno país em seus confusos 500 anos de história. Após inúmeras discussões, missões diplomáticas, reuniões, e bate-bocas, os nobres homens não souberam chegar a um consenso sobre o paradeiro do General, já que para alguns ele saíra em sigilo do país, enquanto que outros ainda carregavam no braço a fita preta em sinal de luto. O certo é que depois que o General, já com a cabeça raspada, comunicou a nação que estava com uma doença muito grave, suas aparições públicas nos últimos dez anos foram ficando cada vez mais raras, ao passo que os seus decretos, muitas vezes estapafúrdios, nebulosos, saíam cada vez mais freqüentemente e cada vez com menos rejeição da maioria. Isto porquê, apesar de todas as ameaças de golpe e da popularidade quase subterrânea, para aquele país de brutos tão amáveis não convinha contrariar o General, pois, ao que se sabia, ele já estava às portas da morte.
Cerca de sete meses após o enterro do general, com a nação à deriva e com o governo nas mãos de um conselho onde um membro mal lembrava dos nomes dos outros, a população fora convocada quase que em tom de ameaça para ir às urnas escolher o novo mandatário do país, numa lista de candidatos que ninguém conhecia. A maioria dos votantes sequer sabia ler o bastante para escolher uma das 17 opções na cédula, algo que nem imaginavam para que serviria. Depois de mais oito meses de apuração, o novo comandante daquele país, a quem deveriam chamar de presidente, desfilava em carro aberto pelas ruas da capital, diante de uma população que comemorava sem saber ao certo porquê. E o cerimonial nem se preocupou em manter a massa muito distante do carro presidencial, pois àquela distância, dificilmente achariam alguma semelhança entre aquele que acenava sorridente e o antigo general, de quem ninguém nunca havia chegado perto e que todos achavam que tivesse morrido.