quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O encontro

Antes de entrar no ônibus, Camila se deteve para olhar ainda mais uma vez para Ricardo. Era um típico olhar de adeus, maciço, profundo e silente, que durou a infinidade de uns poucos segundos. Tudo só aconteceu graças àquele encontro universitário, e agora, estavam para sempre condenados a levarem o peso da lembrança daqueles três dias fugazes. Já na ansiedade da chegada, os dois se bateram enquanto cada um ia para o seu dormitório. Na manhã seguinte, na saída de um auditório, se viram novamente, meio de longe, e o sorriso mútuo foi inevitável. À noite, acabaram ficando próximos durante o show de forró que acontecia depois do dia de palestras. Sem disfarçar, ela começou a rir do jeito que ele se balançava, e assim abriu espaço para a abordagem.

“Você sabe dançar isso?”, ele abriu os braços, e ela se aproximou dizendo que ele estava quase lá. Ela tinha morado uns anos no Ceará, e aquele ritmo não lhe era totalmente estranho. No fim, riram mais que dançaram, e daí não se desgrudaram mais. Parecia que aqueles dois dias não passariam nunca, e eles não teriam mais que voltar para as suas vidas onde a ausência do outro seria, agora, quase intolerável.

Mas o dia da partida chegou, e naquelas horas inflamadas, acabaram se beijando com a relutância de quem sabe que por mais que ande, vai dar mesmo é com a cara na parede. Só que Camila tinha um pé na inconseqüência, “toma meu telefone, a gente mantém contato”, e ela anotava, apressada, atrapalhada com as lágrimas que já queriam cair. Mas Ricardo, contrariando tudo, inclusive a si mesmo, tratava apenas de colocar pelo menos os seus pés no chão, pois para ele, aquele final de semana não poderia durar para a vida toda. Era melhor achar que Camila tinha sido só um devaneio, um sonho incomum, um fôlego frenético encarnado numa morena ruiva que não tinha medo de cruzar o país dentro de um ônibus, nem muito menos de dançar com um estranho. Já próximo de casa, Ricardo fazia força para encarar tudo aquilo como apenas uma pista de uma vida perfeita. Uma vida que só teria ao lado da garota perfeita, ao invés da sua noiva, que lhe esperava no mesmo sofá em que viam sempre as mesmas novelas.

3 comentários:

Mythus disse...

Coitada da noiva.

Coitado do Recardo também, por achar que a vida perfeita é algo parecido com um congresso/encontro universitário.

Da Camila eu não sinto pena. Gente tonta assim tem que sofrer.

Bruno R disse...

ahahahahahaha tulio é engraçado

Chilavert disse...

ver as mesmas novelas no mesmo sofá é que não é vida perfeita, Mythus.

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