quinta-feira, 13 de setembro de 2007
De como se faz um navio fantasma
No cais, não houve o festival de acenos avulsos, nem papel picado, nem lágrimas, nem banda tocando, nada. Apenas o vento batendo nas tábuas cheias de limo, um céu sem brilho nem cor, e um homem que via do píer o navio se afastar do continente. A despeito da chuva que já principiava, o homem permanecia estático, queria guardar a visão do navio partindo para sempre. O navio ia, mas ia numa vagareza que chegava a incomodar o homem, era uma expectativa ao contrário, o navio insistia em não sumir na paisagem, parecia que não saía do lugar, relutando contra pressão em suas velas. Mas para o alívio do homem, e depois de todos naquela cidade, o navio já estava um pouco menor, e começava a pegar as correntes robustas, tomando a sua rota de esquecimento. Ia sem mapas, bússolas ou cartas. Ia trôpego, vacilante, cortando ondas esquálidas, com os porões atulhados com todos os tuberculosos do país para uma viagem sem chegada, sem coordenada e sem destino. Através das vagas, a nau vagaria, e assim continuaria, após o último deles morrer.
sábado, 1 de setembro de 2007
Em Campina Grande
Em Campina Grande, o pessoal quer ver o Satanás e não quer ver um dos seus supostos adoradores, conhecidos por lá como "roqueiros".
Contrariando a todos os prognósticos, existe gente que curte Rock na cidade do Maior São João do Mundo. Se isso não significa lá muita coisa em lugares ditos desenvolvidos, como São Paulo e Belo Horizonte, que dirá num lugar que só possui três estações de rádio, sendo duas delas idênticas?
O Rock e seus cultuadores sempre tiveram uma vocação pra marginalidade, até encarnaram o espírito da contra-cultura numa certa época. Mas em Campina Grande, isso é elevado ao cubo. Tem algo de Ku Klux Clan, sociedade secreta, máfias, um tipo de "ocultismo". A gente sabe que isso de se colocar a parte também se deve eles, aos próprios "roqueiros", é a coisa do grupo, de se agregarem para se sentirem melhores que demais, etc, etc. Mas não é só isso.
A figura do "roqueiro" em Campina causa no cidadão médio uma mistura de medo e raiva. A simples presença de um deles, a mera visão, já gera um incomodo quase incontrolável. Uns sentem nojo, outros vontade de rir, escarnecem, como que de uma sub-raça acéfala, capaz apenas de bater cabeça e cantar coisas em línguas ininteligíveis. Mas pudera, a imagem cunhada (de novo, pelos próprios "roqueiros") é daquela figura toda de preto (a despeito do clima), cabelo grande (irresponsáveis?), e um ar meio arisco, meio abobalhado. Daí a lhes associarem a tudo o que não presta.
Não por acaso, o estilo mais popular entre o público roqueiro de Campina é o METAL, e os seus ouvintes fazem o possível para ter um visual em sintonia com este som. Pelo menos a maioria é assim, deixando por onde passa um rastro de narizes torcidos. Os caras do Kiss ou o Marylin Manson se comoveriam com forma como que a Atitude Rock'n' Roll é exercida em Campina. Lá tem que ter "colhões" pra botar a cara na rua, é um dos poucos lugares do mundo em que o conceito de true é entendido na prática. Em volta disso tudo, há uma sensação de um verdadeiro apartheid cultural, uma ditadura da monocultura. Mas deixa quieto. Se lá músicas com versos como "Vá pra porra/ Sua cachorra" ou "Vamos fazer bebê agora/ Quer beber?" são o parâmetro de gosto, então não é bom nem discutir...
Contrariando a todos os prognósticos, existe gente que curte Rock na cidade do Maior São João do Mundo. Se isso não significa lá muita coisa em lugares ditos desenvolvidos, como São Paulo e Belo Horizonte, que dirá num lugar que só possui três estações de rádio, sendo duas delas idênticas?
O Rock e seus cultuadores sempre tiveram uma vocação pra marginalidade, até encarnaram o espírito da contra-cultura numa certa época. Mas em Campina Grande, isso é elevado ao cubo. Tem algo de Ku Klux Clan, sociedade secreta, máfias, um tipo de "ocultismo". A gente sabe que isso de se colocar a parte também se deve eles, aos próprios "roqueiros", é a coisa do grupo, de se agregarem para se sentirem melhores que demais, etc, etc. Mas não é só isso.
A figura do "roqueiro" em Campina causa no cidadão médio uma mistura de medo e raiva. A simples presença de um deles, a mera visão, já gera um incomodo quase incontrolável. Uns sentem nojo, outros vontade de rir, escarnecem, como que de uma sub-raça acéfala, capaz apenas de bater cabeça e cantar coisas em línguas ininteligíveis. Mas pudera, a imagem cunhada (de novo, pelos próprios "roqueiros") é daquela figura toda de preto (a despeito do clima), cabelo grande (irresponsáveis?), e um ar meio arisco, meio abobalhado. Daí a lhes associarem a tudo o que não presta.
Não por acaso, o estilo mais popular entre o público roqueiro de Campina é o METAL, e os seus ouvintes fazem o possível para ter um visual em sintonia com este som. Pelo menos a maioria é assim, deixando por onde passa um rastro de narizes torcidos. Os caras do Kiss ou o Marylin Manson se comoveriam com forma como que a Atitude Rock'n' Roll é exercida em Campina. Lá tem que ter "colhões" pra botar a cara na rua, é um dos poucos lugares do mundo em que o conceito de true é entendido na prática. Em volta disso tudo, há uma sensação de um verdadeiro apartheid cultural, uma ditadura da monocultura. Mas deixa quieto. Se lá músicas com versos como "Vá pra porra/ Sua cachorra" ou "Vamos fazer bebê agora/ Quer beber?" são o parâmetro de gosto, então não é bom nem discutir...
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