domingo, 29 de janeiro de 2006

Toque-me


...Toque-me. Mas com a ponta dos dedos, apenas. Na testa, região sem reentrâncias nem carnosidades, sem pêlos maiores ou grandes arrepios. Toque-me o nariz, sem carícias excessivas, porque pode me atiçar as constipações, e sem se aproveitar das minhas pequenas narinas, com esses dedos tão grossos. Não me toque as faces, pois me enrubesço com facilidade, nem o queixo e o pescoço, abaixo das orelhas, porque me causa tremores que me descem pelas penugens, e vão assim de penugem em penugem percorrendo todo o corpo, indecentemente. Toque-me as mãos, enluvadas, sem demora, sem apertos, sem beijos longos ou respirações. Nunca tocarás meus pezinhos, nem meus joelhos, que nunca verás na vida. Toque-me, de leve, o alto da minha cabeça, o meu ombro vestido, isso é tudo que te darei, é o que posso dar àquele que não amo nem desejo agradar. Já a ele... Tudo! Tudo! Que me encontre em chamas por baixo da anágua, e me apalpe com força por dentro do corpete. Que me deixe intumescida entre as combinações, que me invada apressado todas as cavidades, suadas, e que prove o frêmito das minhas mais recônditas partes. Vou entregar-lhe meus ouvidos para que sussurre os planos para nossa noite, e me arranque risadas de volúpia dentro da igreja, e me cutuque em público, quebrando o decoro, para o escândalo das velhas que não puderam decidir que seus maridos fossem seus homens, nem nunca tiveram a glória de dizer-lhes "hoje serei sua cadelinha".

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Review-reverso: a estréia do Gauche


DA ESQ. PRA DIR.: Ton (baixo), Fábio (guitarra-base e backs), Bruno (vocal e teclados), Paulo (bateria) e Luís (guitarra-solo).

Começamos a tocar por volta da meia-noite, após uma banda chamada Esquina 200. Esta banda é composta por uns moleques novos, que apesar do visual "emo-core-doiderinha" são até gente fina. Fizeram seu show, também estréia, com um certo nervosismo, como me confidenciou um deles antes. Comparando a mim, que entrara no Gauche havia uma semana, eles não tinham porque ter tanto medo.

E eu não estava com um pingo. Estava até com um pouco de sono, de tão relaxado. Tínhamos ensaiado alucinadamente durante a semana anterior, as bandas (ou a banda) que tocaria conosco não era algo que pudesse nos humilhar de tão boa, tocamos com retorno (uma caixa que fica a sua frente para que você possa se ouvir e saber o que está fazendo), enfim, motivos para grandes preocupações não havia. Tudo pronto, então começamos. Não havia tanta gente assim no ginásio do Cefet, onde ocorria o EREA (Encontro Regional dos Estudantes de Arquitetura). Colocaram algumas mesinhas no meio da quadra, fizeram algumas rodinhas de conversas, bebiam, o clima era de bar com música ao vivo, ninguém prestando atenção às apresentações com tanto rigor.

O público esparso se devia mais ao fato do evento e das apresentações das bandas serem restritas aos participantes do encontro. Sem falar que ainda estava chegando gente e que algumas pessoas preferiram dormir após o dia de palestras e oficinas. Mas algo que me chateou de verdade ainda antes de subir ao palco foi a presença do tal do gelo seco. Se assistir show com essa fumaça dos infernos incomoda, estar lá em cima entre aquela névoa adocicada é terrível. Buscando um efeito mais bonito, o responsável pela fumaça às vezes exagerava, e eu não via era mais nada, nem guitarra, nem minhas mãos, nem o set-list, nada, uma momentânea cegueira branca digna de Saramago. E o chato é que não fica só no visual, a coisa vai direto nas mucosas nasais, irrita os olhos, e deixa a boca bastante seca. Também havia refletores, que dadas as parcas dimensões do palco, ficavam bem na nossa cara. Para completar, o teto do ginásio é de alumínio, e àquela hora ainda refletia reverberações do calor da tarde. Enfim, como diria o Roberto, "é uma brasa, mora"?

Agora entendo quando os grandes astros da música pedem, entre seus pedidos excêntricos, centenas de toalhas brancas. Se o suor é uma constante na platéia, em cima do palco não é diferente. No nosso caso, tivemos que nos arranjar com a própria camisa, os braços, e fomos em frente. Lá pela metade do show houve um momento em que uma moça chegou na beira do palco e me entregou um papelzinho. Confesso que me animei com a possibilidade daquilo ser um bilhetinho dirigido a mim, mas não era. Apenas dizia com uma letra singela que tocávamos bem, mas que se tocássemos alguma música "conhecida" eles ficariam muito agradecidos. Infelizmente não tínhamos nada ensaiado nesse sentido e não tivemos como tocar um cover. Eu ainda arrisquei o riff de "Satisfaction" dos Stones, mas foi só para fazer uma gracinha mesmo.

E terminamos o show. Logo que deixamos o palco (que parecia um andaime, feito de tábuas numa armação metálica) atinei para duas coisas: antes de nós deveria ter tocado uma outra banda além do Esquina 200, mas como eles não apareceram, ficou no ar aquele "gostinho de quero mais", a sensação de que estava cedo demais para a noite "terminar". Segunda coisa: foi justo com a última das três bandas que entrei em 2005 que estreei num palco... Em suma, mesmo com todas as falhas técnicas, um cabo que dá defeito, ou uns errinhos básicos, a coisa andou, e houve elogios que pareceram sinceros. Apesar de não ter sido um show, show mesmo, com bilheteria, platéia exigente e cachê no final, deu para sentir um pouco do gosto dessa matéria de que é feita o Rock, que é o contato, a interação, o encontro. Tudo isso com bastante suor no meio, é claro.

***Quem quiser saber mais sobre o Gauche, ouvir músicas, ler release, e ver fotos, é só entrar aqui.

Morada

Quando os homens chegaram , encontraram Dona Lourdes na cozinha, sentada à mesa. A idosa olhava para o quintal, indiferente às grossas rach...