domingo, 11 de setembro de 2005

O fim do destino


Bem que Dona Dirce não queria, mas Marieta acabou casando sem saber direito o que isso era. Ela era a mais nova de três irmãs, quinze anos mais nova que a segunda. Quando deu por si as irmãs já moravam longe, e só apareciam de vez em quando com uns sujeitos entojados que ela nunca se interessou em saber quem eram. Marieta cresceu assim, longe do burburinho das garotas da cidade, isolada e contente, do jeito que a mãe quis. Não tinha vaidades, não tinha desejos, nem ânsias maiores que o perfeccionismo nos bordados. Sob a vigilância de Dona Dirce, sua mãe, Marieta já perdia o viço da mocidade e parecia rumar satisfeita para uma maturidade de solitária convicta. Havia estacionado nos doze anos de idade e nem lembrava que era uma mulher.

Um dia surgiu por aqueles lados um tal de Abílio, primo em terceiro grau do falecido pai de Marieta. Tinha ido tratar de uns negócios na cidade, mas acabou ficando uma semana, e Dona Dirce soube bem porquê. O homem se encantara com a impaciência infantil da prima, que para ele pareceu altivez de moça direita. Era certo também que Marieta ainda guardava lá seus encantos: era alta, um tanto corpulenta, e tinha um olhar vivaz que não fugia de encaradas. Dona Dirce teve medo. Sabia que se ele fosse muito insistente, bastaria uma faísca para Marieta acabar se arvorando por "certos" assuntos. Cederia logo à novidade, ia tomar gosto, se alvoroçar, e foi isso mesmo que aconteceu. Depois de seis anos de idas e vindas, mesmo com o Abílio tendo arranjado uma mulher nesse tempo e Dona Dirce colocado terra como pôde, os dois, exaustos de tanta vontade, se casaram e partiram sem dizer para onde.

Agora, passado um mês, os dois estavam de volta à casa de Dona Dirce, só que Abílio partiria sozinho dessa vez, deixando lá uma Marieta furiosa, mas sobretudo, confusa. Foram trinta dias terríveis para os três. Para Dona Dirce, cedo ou tarde isso aconteceria: se ver às voltas com o que fugiu a vida toda. Já esperava se chocar com a falta de palavras para o que a parteira achou estranho quando Marieta nasceu e que ficou inexplicado até então. O seu ex-genro não estava menos encabulado. Tentava imaginar, para quando perguntassem, uma resposta suficientemente forte para explicar o fim repentino do casamento. Teria que ser algo mais específico do que "ela não serve", e que o livrasse do embaraço de contar que a ex-mulher nascera com a vagina tapada.

5 comentários:

Luís Venceslau disse...

Eu bem que achei ela corpulenta demais.. :P

Breno

Luís Venceslau disse...

nem um cara chamado Abilio merece tamanho azar!

Gio

Luís Venceslau disse...

ahahahahahah eu percebo semelhanças entre este post e o do agripino.
ps. e por onde ela mijava?

o cítrico

Luís Venceslau disse...

adorei a organização, luís. palavras milimetricamente arrumadinhas. parece os contos do drummond! :) / *mas eu também tive a dúvida do laranja. / não deixe não, a pobre aqui, vamos ver se rola aqueeela ida ao cinema. |*

li

Luís Venceslau disse...

"... e Dona Dirce soube bem porquê." Neste caso, o "porquê" vira "por quê", separado e acentuado. Achei denso demais, poderia ser mais bem-humorado, se o ritmo não se perdesse em meio a tantas palavras que poderiam ser cortadas. Dou nota 8 porque ainda não é o máximo Luís, este aqui. Merece 9 pelo final supreendente.

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