Rita Lee & Tutti-Frutti
"Fruto Proibido"
1975
Certa vez, Rita Lee disse que ter saído dos Mutantes foi a melhor coisa que podia ter lhe acontecido. Apesar de ter passado algum tempo para se dar conta disso, na época tudo foi bastante doloroso, como é em todo rito de passagem. No caso da Rita, esse rito só se completaria alguns anos mais tarde, com o lançamento de Fruto Proibido (1975)
A passagem da escola
pra universidade, daí para o emprego, casamento, tudo isso acaba implicando em
desligamentos, readaptações, e alguma dose de sofrimento. Com Rita, deixar o
seu grupo original foi o seu passaporte para a maturidade, da adolescência psicodélica
com os Mutantes para a vida adulta ao lado do Tutti-Frutti. Foi ainda às voltas
com esse clima de separação, mudança e partida, e a aceitação plena desse novo momento, que Rita Lee compôs algumas de
suas melhores músicas de sempre: “Agora só falta você”, “Esse tal de Roque Enrow” (com
Paulo Coelho) e “Ovelha Negra” (seu maior hit).
Mas pra chegar nesse ponto não foi assim de repente. Ainda na época
dos Mutantes, vieram alguns discos solo, pra pegar confiança. Depois, com o Cilibrinas do Éden e Atrás
do porto tem uma cidade, afinou o discurso,
a embocadura, e chegou pronta em Fruto Proibido. Sucesso total. A
pegada stoneana da banda de Luis
Carlini foi a embalagem ideal para a poética de Rita Lee, que aquelas alturas
andava fascinada pelo Glam Rock de Bowie e Marc Bolan. Mas ao contrário deles,
Rita não propunha fantasias pop decadentes e escapismo: ela concentrava sua narrativa em
torno de fortes figuras femininas (como em “Luz Del Fuego”), que parecem ser
metáforas de uma mulher que ela procurou em si mesma, após o baque da sua
demissão dos Mutantes.
Entre o instrumental
forte do Tutti-Frutti, Rita encaixava marotamente o seu piano com o charme que
era também uma das marcas do seu humor, bem feminino, desde os tempos
tropicalistas. Mas nada disso parecia demandar muito esforço. Fruto Proibido não nasceria de exaustivos
exercícios mentais, como o rock progressivo cabeçudo que seus ex-parceiros
haviam adotado. O disco era a expressão pura e espontânea da criatividade de
uma artista que não teve medo de exorcizar velhos demônios publicamente. O que
acabou dando certo. De cantora promissora, Rita se tornaria uma estrela
nacional, catapultada pelo êxito de Fruto Proibido, que é um dos grandes
discos brasileiros de todos os tempos. (aqui)