Semana passada eu fui mais um a engrossar as cifras surreais de Avatar, que já ocupa com folga o posto de maior fenômeno cinematográfico de todos os tempos. Maior fenômeno, claro, do ponto de vista econômico e talvez tecnológico. Como é a economia que dita nossos destinos e a tecnologia já virou parte da cultura, é obvio que os louros de Avatar seriam medidos por esses referenciais. Linguagem, estética, russos, isso é coisa pra cineclubista e curta-metragem.
Mas não que o chamado cinema pipoca (do qual Avatar é produto) seja totalmente despido de intenção artística. Coppola, George Lucas, Spielberg, Zemeckis e Peter Jackson já conseguiram atingir o mainstream de forma inteligente e impactante, sem apelarem pro ritmo água com açúcar dos contos de fada hi-tech do senhor James Cameron. Chega a bater um gostinho de enganação quando você se dá conta da ênfase que ele dá aos efeitos especiais, o que acaba jogando enredo, trilha, e tudo o mais pra segundo plano. No fim das contas, seus filmes acabam virando uma festa pros olhos e um anestésico pra cabeça, o que geralmente redunda em sucesso de público. Das outras vezes em que impressionou o mundo (Exterminador do Futuro II e Titanic), o estardalhaço veio mesmo através das inovações tecnológicas, que só mascaram a superficialidade da história e das atuações.
Entretanto, isso não lhe impediu de amealhar vários Oscars, e com Avatar não vai ser diferente. Tecnicamente ele é mesmo muito bom, merece todas as honras e é bastante superior a tudo o que Cameron já fez. Finalmente tipos humanóides feitos em computação gráfica me convenceram, e isso eu considero um avanço. Mas Avatar também foi além dos seus predecessores por ter gerado hype tanto na produção como na exibição, que ocorre justamente no momento em que o 3D emerge como a “salvação do cinema.” E para alinhar o filme ainda mais ao zeitgeist, Cameron coloca uma mensagem ecológica num filme que é mais um daqueles com spoiler embutido. Ou seja, dissecando Avatar (orçamento milionário + história manjada + problemática atual), dá pra chegar a uma conclusão: James Cameron é a Glória Perez de Hollywood.
Numa cultura estrangeira e exótica, o amor mostra a sua força.